Sunday, October 30, 2005

Numa cabana, no campo

Final de semana genial. Resolvi que seria o tempo da preguiça, e ficaria apenas lendo livros e vendo filmes. Começou na sexta quando revi Primavera Para Hitler, do Mel Brooks, que é muito bom. Destaque total para o Gene Wilder. Dormi cedo, e sem estar bêbado. Acordei cedo e tranquilo no sábado. Li um livro de um bom Argentino, Osvaldo Soriano, e depois fui ver Os Eternos Desconhecidos. Bom também, a velha queda pelo cinema italiano dos anos 60. E ainda pensei numa teoria forte de que todos os filmes italianos dessa época têm ou o Vittorio Gassman, ou o Mastroiani, ou a Cardinale, ou os três, como nesse. Teoria forte dos três atores em diferentes fases e países do cinema mundial (já tem Itália anos 60 e Brasile Argentina de hoje). Acabei o filme meio-dia e parti pro cinema. Vi Noiva Cadáver, que é bom e o Tim Burton está interessante novamente, fui pra Prefácio, li um pouco, vi Memórias de Quem Fica, uma série de filminhos de diretores argentinos sobre o atentando contra o AMIA (Centro Israelita Argentino) em 1994, comi no japonês, passei num aniversário pra dar alô mas acabei migrando para a Da Conde, onde fiquei conversando com uma vendedora e acabei comprando o Fante que me faltava (Sonhos de Bunker Hill), aí voltei pra casa pra ler. Acordei hoje, matei um Cortázar, almocei e emendei três filmes - Clube dos Cinco, A Vingança dos Nerds e Manhatan. O primeiro é um outro filme muito bom do John Hugues, autor e diretor de Curtindo a Vida Adoidado. Teoria forte de que ele é um dos melhores cineastas dos anos 80. Pena que se acabou depois. Os outros dois estava apenas revendo - os Nerds é muito ruinzinho mas tem um apelo emocional, e o Manhatan é espetacular, com um dos melhores começos de filme de todos os tempos. Simples mas muito bom. E foi isso.

Friday, October 28, 2005

Hoje, no Metrô

Everything in it´s right place - ao meu lado uma mulher lendo um Veríssimo genérico, em frente uma menina lendo o inacreditável Incomodada Ficava a Vovó, que tem cara de livro engraçadinho horrível e de pé um homem lendo O Vendedor Pitbul, que parece ser a picaretagem da vez. E, claro, a sinfonia dos celulares estava lá, além das pessoas que não se levantam pros velhos.

E quando eu cheguei na Carioca faltavam 3 páginas pra terminar o Soriano (é tempo de argentinos) e aí tive que ficar no metrô. Terminei na Praça Onze, dei a volta e peguei o trem de volta, absurdamente lotado, onde ninguém lia mas a sinfonia dos celulares era executada. Quando sai o referendo?

Thursday, October 27, 2005

Hoje, no metrô

Momento raro, que deveria ser congelado e reproduzido. Silêncio absoluto, apenas o barulho do trem (isso é silêncio absoluto no metrô), estava sentado naqueles bancos quadruplos. À minha direita ("pesando 50 kilos") estava uma menina lendo Doutor Fausto. À minha esquerda uma velha (velha, caquética) lendo Feliz Ano Novo. Na frente, uma outra menina lia um Philip Roth. Genial.

País de Gales

Por que o tradutor colocou "País" no nome do maldito país?

Mas não é isso. É que hoje revi o espetacular programa sobre as olimpíadas galesas de pântano. Sim, várias modalidades disputadas em um pântano, com aquelas poças imensas marrons cheias daquele tipo de capim nojento que cresce em pântanos. Tem natação no pântano com snorkel (que não serve pra nada, o cara não vê meio centímetro pra frente dentro da água), tem corrida de bicicleta no pântano, os caras com snorkel também a água até a cabeça tentando pedalar uma bicicleta no lodo, e tem, claro, arremesso de tronco no pântano, esporte trazido pelos escoceses em algum momento do século XI, logo após a anexação. Ah, os galeses!

Tuesday, October 25, 2005

O fim do blog-en-blanche

Finalmente o casal parisiense resolveu recolher a obra de arte da Tate Modern e escrever. Eles me prometeram casa e comida em Paris, então tenho que fazer propaganda. Mas é bom, exceto quando o Lucas fica benevolente. ah sim, é o Bom Dia, França.

De sebos e editoras

Dicas valiosas me levaram a um sebo novo, no Paço Imperial. O ligar de fora parece uma lojas de cds e é mesmo, mas tem um sebinho ali no canto, escondido. E assim que tem que ser mesmo. Tem um sebo em Ipanema que me recuso a entrar que faz até propaganda. Tudo bem que é na carrocinha de pipoca da praia, mas ainda assim comercial, e não pode. Mas enfim, o o sebinho escondido escondia também coisas maravilhosas, como a valiosa dica havia dito. Uma breve olhada na mesa com livros jogados e avistei uma edição da Brasiliense de Pra cima com a Viga, Moçada e Seymour: Uma introdução. É o livro com dois contos muito bons (o primeiro mais que o segundo) do Salinger, e com a tradução boa, dos anos 80. Basta dizer que o espetacular Pra cima com a Viga, Moçada virou Carpinteiros, Levantem Bem alto a Cumeeira. Não tem comparação. Edição rara, e o preço refletia isso. Ao lado havia uma tentativa de biografia do Salinger escrita por um inglês maluco. Mas legal. Comecei a ler para ver qual o nível de picaretagem do negócio mas decidi que deveria ler quandi li um pedaço onde ele dizia que na adolescência só se interessava por meninas que houvessem lido e entendido Apanhador no Campo de Centeio e isso é genial. Nunca cheguei a isso mas não é de todo uma má idéia. Seria um bom filtro. Estava um pouco atrasado para encontrar a senhorita valiosas-dicas, mas ela avisou que estava mais atrasada ainda e resolvi ficar mais por lá. Neste momento o dono se aproximou e começou a comentar sobre o Fante, e as edições boas, e a conversa partiu para as famosas edições da Brasiliense. Por exemplo, as traduções que importam do Fante são as da Brasiliense, do Paulo Leminsky. E ele contou toda a história da editora. Disse que pertencia a um cara que era muito inteligente e gostava de lançar coisas novas e acabou fazendo história no mercado editorial nos anos 80. Mas ele gostava muito de moto e acabou morrendo num acidente. A mulher pegou a editora mas era feminista e tal e quebrou rapidinho. O cara que o ajudou a fazer a Brasiliense foi o Luiz Schwarcz, que com a morte do cara saiu e fundou a própria editora, a Companhia das Letras. Depois do momento fofocas editorias ele falou que a Brasiliense foi a primeira revolução do mercado editorial. A segunda foi a Companhia das Letras e a terceira a Cosac & Naif. Não entendi bem os motivos, porque se a Brasiliense revolucionou pelos lançamentos bizarros para a época e Cosac & Naif só revoluciona por ter livros bonitinhos, mas quase sempre de autores antigos, nada de novos lançamentos. Mas essa é a opinião dele. Saí de lá, fui para um café e pensei um pouco a respeito de editoras. Fiz um Top 5. Não coloquei a Brasiliense porque não vale editoras quebradas.

Top 5 Editoras

1. 34 - A simples coragem de traduzir do russo todas as obras do Dostoievski já bastava para ser a melhor editora do Brasil. Mas ainda lançam outros russos e pessoas do leste europeu. Agora ainda lançam contos do Dostoievski com análise e tudo. Genial.
2. Editora do Autor - Bem, só conheço deles a caixa dos livros do Salinger (menos o Carpinteiros... que é da Companhia das Letras. E é a tradução ruim. E pensando agora, a Companhia deve ter roubado o catálogo da Brasiliense. Ou parte dele. Talvez somente as traduções ruins. E o que era bom traduziram mal. Malditos!). E espero que não tenha nada além disso. Porque uma editora que lança os livros do Salinger merece estar aqui.
3. Companhia das Letras - É gigante, sim, mas não tem jeito. Lançam de tudo, e as obras horríveis que vendem muito sustentam as menores e boas, como o Saer. E os livros são bonitos, as páginas são amareladas, isso vale. Sem contar que quando o Schwarcz a fundou ele foi ao Rubem Fonseca, ofereceu maior grana pro cara e o roubou da Rocco (bonus!), que era uma mega editora, trazendo o cara pra uma editorazinha então desconhecida. E eles lançaram o Arco Íris da Gravidade. e O Paulo Henriques de Brito traduz pra eles.
4. Cosac & Naif - Eles não lançam quase nada de novo, mas aquelas edições de capa dura e folha boa são uma tentação. Tem Stendhal, Tolstoi, uma galera escandinava. São uns crápulas, porque você tem que comprar as edições bonitas. Dizem que ela é parte de um grupo empresarial imenso. Não dá dinheiro, só charme.
5. L&PM Pocket - Pockets são legais, mas sempre foram sinônimo de livros ruins de capa feia. Mas a coleção da L&PM é boa, tem ótimos livros (2 Fantes, por exemplo) e as edições são bem honestas. E custam 11 reais.

Saturday, October 22, 2005

Idéias para futuros referendos

Pela probibição dos toques de celular - um dos maiores infernos de qualquer ambiente fechado. E as pessoas acham legal, e baixam toques e tudo, e pagam por isso. E aí fica aquela sinfonia horrorosa no metro, por exemplo, atrapalhando a leitura que deveria ter apenas o barulhinho do trem ao fundo ou das páginas de jornal sendo viradas (tenho inclusive uma teoria de reconhecimento de pessoas pelo toque de celular delas, mas ainda não está completamente desenvolvida). Poderia haver também um subreferendo sobre a probição daquelas avisos sonosros no metro.

Pela probição da exibição dos 30 minutos finais dos filmes do Spielberg - uma lei pelo bem de todas as pessoas que vão ao cinema. Faltando 30 minutos para o fim do filme, corta e pula pros créditos. Isso valeria também para os filmes antigos dele, que seriam recolhidos e trocados pelos novos. Alguns filmes ficariam bons até. A exceção seria Tubarão, que é bom e não precisa disso.

Pela colocação do Paulo Bezerra numa bolha - o cara que tem um monte de obras russas para traduzir não pode ficar se arriscando pela rua ou sujeito a todos os vírus do ar. Pelo menos não até traduzri tudo que ele tem que traduzir.

Conta a retradução do Asterix - li que a Record está se preparando para relnaçar toda a coleção do Asterix mas com tradução nova. Isso deveria ser proibido, a tradução é um dos pontos altos do Asterix. Alguns são até menos engraçados lidos no original do que na tradução. E ainda tem aquelas coisas todas dos anos 60. A exceção ficaria por conta de uma possível retradução por parte do Paulo Henriques de Brito.

Pela proibição de luzes brancas em livrarias - quebraria as megastore todas, mas e daí? Acho que a intenção é essa mesmo.

Wednesday, October 19, 2005

Argumentos pró-cartas

Dar material para nossos biógrafos. Ou para bons livros de trocas de correspondências. Não consigo imaginar daqui a 100 anos algo do tipo "emails - Tija e Pynchon 2004-2008" ou "trechos selecionados de conversas do MSN entre Tija e Rubem Fonseca". Hmpft.

Oh, the humanity!

Peguei um táxi do Leblon ao Centro, abri um livro, li uma página e o motorista começou a falar. Não parou mais, o jeito foi fechar o livro e tentar pelo menos melhorar um pouco o papo e sair da tradicional tríade taxista tempo-futebol-mulher. Não sei bem pra onde levei o papo mas ele falou que tinha três televisões em casa - uma pra ele, uma pra mulher e uma por filho. Que ele via Animal Planet e futebol, a mulher novela e o filho o que quer que seja. Mas a televisão dele quebrou, e por causa disso ele estava trabalhando mais todo dia, até umas 10:30 da noite, porque se chegasse em casa antes teria quer ver a novela ou então não teria nada pra fazer. Deus, que triste isso! Torci muito pra que as outras duas quebrassem também e aí quem sabe...

Um post escondido

Uma das coisas mais legais de se ouvir um disco novo muito bom é descobrir ao final uma faixa escondida. Reza a lenda que essa história começou com os Beatles e tal, não importa. Alguns exemplos são melhores que os originais, e apenas para citar um em voga aqui em casa ultimamente falo da maravilhosa faixa escondida do The Man Who. Além de ser uma das melhores do disco, é realmente escondida, aparecendo após uns 3 minutos de silêncio que se seguem ao final da pretensa música final.

Se álbum tem, blog pode ter. E se vocês forem ali nos comentários do último post, sobre o Terry Gilliam, verão o primeiro post escondido da história, da Raquelita. Um bom post, sobre quem vende livros bons para sebos, como devem ser as músicas escondidas.

Sunday, October 16, 2005

Com comentários

O que se passa com o outrora genial Terry Gilliam?

Como já dizia Conrado:

- uma pausa...























- Longa



(uma voz se levanta, no fundo da sala, após silêncio constrangedor)
- Mas ele quebrou com o fracasso do Dom Quioxote, tem que recuperar uma parte da grana, ajudar o estúdio, tem mulher e filhos pra alimentar.

- Eu sei. Mas não dou a mínima! Que filminho picareta e horroroso!!!

Daumier-Smith´s day off

Um dos maiores prazeres da vida é fazer coisas enquanto se gazeta aula. Como você tem que ficar fora de casa por um bom período acaba fazendo coisas que, muitas vezes, não faria normalmente por preguiça ou comodismo. E quando se sabe que a alternativa era estar numa sala chata fica ainda melhor. Todos os programas que Ferris Bueller faz - o museu, o jogo de beisebol, o almoço, visita a Bolsa - não seriam a mesma coisa num final de semana e muito provavelmente não seriam feitos de uma vez.

Achei que esse fosse um prazer perdido. Mas hoje pude sentir o gostinho novamente. Acordei cedo para fazer, meio a contragosto, o concurso do BNDES. Foi um pedido muito pedido de papai e não quis dizer não. Lá fui eu para Bonsucesso. Não havia me preparado, não sabia nem como seria a prova. Só sabia que eram duas partes - uma de manhã, de 8:30 a 12:30 e a outra de tarde, de 3 até sei lá que horas. Recebi a prova, olhei, e se um dia eu soube economia desprendi tudo. Cournot, Bertand, regressão, não me lembro de mais nada. Vi que não ia sair muita coisa dali, fiz a prova meio rápido - pelo menos inglês e portugues eram bem fáceis - e saí cedo, umas 10:30. Estava quente, o lugar era estranho e teria que esperar até 3 da tarde pra segunda parte. Resolvi ir pro Centro. Sei que todo domingo às 11 tem programação no Theatro Municipal. Se corresse chegaria a tempo. Peguei o taxi e mandei o cara correr.

Cheguei lá 11:03. Entrei correndo, paguei o ingresso - R$ 1!! - e sentei. Nâo sabia o que era, podia ser qualquer coisa. Vi uma orquestra sinfônica. Bem, pelo menos é música, pensei. E começaram a tocar Verdi. Muitíssimo bem. Emendaram com Rossini. Novamente muito bem. Intervalo. Fui descobrir que era a Sinfônica de Roma. Tinha dado uma sorte danada. O programa continuou com Rossini, que é a especialidade da orquestra. Foi bastante bom. No final, sob aplausos, ainda emendaram Brahms de lambuja. Tinha uma velhinha muito legal do meu lado que literalmente chorava e mandava beijinhos pro regente. Saí feliz e decidido a não voltar pra segunda parte da prova. Teria que enrolar até umas 6 da tarde.

Fui ao MNBA dar uma passadinha. Tem bastante lixo e não está tendo nenhuma exposição interessante, mas tem os modernistas que sempre valem uma olhada. Daí fui ao Unibanco Arteplex. Nâo sabia horários nem os filmes, mas com 6 opções alguma coisa teria. Acabei pegando Irmãos Grimm, mas era um pouco mais tarde. Fui a livraria, comprei um Fante - 1933 Foi Um Ano Ruim - e fiquei lendo no café por uma hora enquanto esperava. Aí vi o filme (sem contários), fui pra Prefácio, matei o Fante, peguei o metro e andei de copacabana até em casa. Genial. Melhor gazeta. A toda hora pensava que eu poderia ter esperado horas sob o sol de Bonsucesso e feito a chatíssima segunda parte da prova numa sala quente.

Wednesday, October 12, 2005

Pequenos grandes momentos

Caminhar sozinho pelas ruelas de Santa Teresa ao amanhecer sem saber direito para onde está indo (ou onde quer chegar).

Pérolas das críticas de cinema

Ou de como os críticos são na maioria das vezes mais pretensiosos que os cineastas

Crítica de Wallace e Gromit do Rodrigo Fonseca, de O Globo, ex JB (escola de críticos fãs do Glauber Rocha)

Demasiadamente distante da realidade latino-americana, o enredo se agarra a um exotismo nada cativante


Monday, October 10, 2005

Uma boa descoberta

Houve um tempo em que Travis era uma boa banda. Ou eu era mais benevolente, não sei. Mas nos idos de 2000 fiquei um bom tempo ouvindo o The Man Who. Depois me esqueci dele, ficou ali num canto meio jogado, perto dos cds de progrwessivo holandês, mas domingo redescobri o bichinho. Fui ouvir de novo, não é ruim, longe disso, tem belos momentos como Driftwood. Mas o melhor, que eu não dava muita bola na época, é o encarte (sim, na época se comprava cd). Tem umas fotinhos geniais de cenários desolados das highlands e no final, lendo os créditos, tem lá pequeno, escondido: Dedicated to Stanley Kubrick. Não tinha mesmo como o disco ser ruim.

Delendas Cartago, não?

A idéia é genial e é da clarice, mas eu a apoiei e estou fazendo o máximo para que se realize. Ela falou, meio em tom de galhofa, que iria mandar uma carta com 10 euros e um nome de prêmio para o Ian McEwan pelo Reparação após descobrir que o mesmo não havia ganho nenhum prêmio. É realmente bizarramente inadmissível isso. Reparação é candidato absolutamente favorito a melhor do ano (um Tony de Ouro da literatura?) e um dos melhores livros da minha vida. E não ganhou nada! Partilhando da revolta, apoiei a idéia e a encorajei a mandar a carta com os 10 euros e o nosso reconhecimento que procura corrigir tamanha distorção. Só precisamos criar o nome do prêmio e descobrir o endereço do cara na Inglaterra.

Ah, o Festival

Acabado o Festival e passado o período de normalização de notas, faz-se necessário um Top 5. Foram 21 filmes, um número razoável que podia ter sido melhor não fosse minha preguiça em alguns momentos.

Top 5 Festival 2005

1. Flores Partidas
2. Crimen Ferpecto
3. El Aura
4. Senhor Vingança
5. Escola de Riso

É isso. E pela primeira vez desde a instituição do Tony de Ouro acredito que o melhor filme do ano não será um representante do Festival. Flores Partidas é bem bom, mas Steve Zissou ainda está lá em cima, observado pelo Old Boy. Vale ressaltar que procurei evitar os filmes mais conhecidos para ver depois - o Flores Partidas foi mais forte que eu, não pude evitar.

Friday, October 07, 2005

Um começo de teoria sobre o cinema argentino

Tudo começou com uma conversa com o colega casado de Paris.

A tese: o cinema argentino é muito, mas muito, mas muito melhor que o cinema brasileiro.

Dois pontos fortes para prová-la.

1. Eles conseguem fazer um filme sobre um cachorro que é bom. Sobre um cachorro, e não com um cachorro, o que reforça muito a teoria.
2. Eles conseguem fazer um filme sobre uma criança que é bom. Sobre uma criança, não com uma criança, o que reforça muito a teoria.

Uma comparação de atores.

- Todo filme nacional tem ou o Lázaro Ramos ou o Wagner Moura ou o Matheus Nachtergale. Ou todos. Todo filme argentino tem ou o Ricardo Darín ou Eduardo Blanco ou o Gastón Pauls. Ou os três. Vamos comparar.

Ricardo Darín x Matheus Nachtergale. Ricarod Darín, sem dúvida. Aliás, ele é dos melhores atores do mundo, ganha de quase todo mundo.

Gastón Pauls x Wagner Moura. Gastón Pauls, fácil. Versátil, talentoso, e agora está atacando de produtor e diretor.

Lázaro Ramos x Eduardo Blanco. Eduardo Blanco.

Argentina 3 x 0 Brasil.

E assim fica provado que o cinema argentino é muito, mas muito melhor que o brasileiro.

Cinema é a maior diversão

Fui ver sessão dupla com os outros dois filmes da trilogia sobre vingança do coreano de nome difícil. O filme do meio é Old Boy, candidato a melhor do ano.

O primeiro foi Senhor Vingança. ainda não decidi se é bom. Se ficar 1 hora com desconforto no cinema é legal, o filme é genial modo não-banalizado (GMNB). Caso contrário o filme é ruim. Mas ainda não decidi.

E o Festival acabou. Preciso fazer um Top 5, mas estou bêbado agora e não ia dar muito certo.

Ah sim, a sessão dupla virou sessão única. Não sei se aguentaria mais desconforto no cinema. O que não quer dizer que seja ruim.

Mas enfim.

Sic?

Thursday, October 06, 2005

De como falar em Sergio Leone em 10 minutos

Estranhos encontros que a vida nos reserva, dizia o personagem principal de "Noite Macabra" após encontrar o médico que assassinou sua mulher numa pizzaria.

Estranhos encontros que a vida nos reserva digo eu após encontro com uma pessoa numa pizzaria. Fui ver um filme no Estação Botafogo e depois rumei para o São Luiz para um outro, mas tinha meia hora ainda e uma baita fome. Entrei na galeria para me sentar na Parmê e comer algo enquanto lia. Mas acabei encontrando uma amiga que não via desde os tempos de colégio. É o tipo de encontro que pode ser muito, muito chato, e eu pensei nisso quando a vi e tive que dizer oi. Aquele papo irritante de sempre "oi, ,você tá fazendo o que?", "lembra do Diogo? Então, tá morando em Floripa!", "lembra quando a gente jogou giz na cara do Luiz e ele saiu chorando pra sala do Frei?", enfim, coisas chatas do tipo. Não quero lembrar coisas do colégio, era chato e as pessoas eram chatas também. A menina também era uma chata.

Era. Mas não é mais. Para fugir das chatices resolvi pular todas as perguntas imbecis e partir logo pros filmes. Assim falaria de meia dúzia de coisas que vi no Festival e diria que estava atrasado para um filme e pronto. Começou mal, "oi, você por aqui, tudo bem?", essas coisas, mas em dois minutos estávamos falando de Flores Partidas e de como o Bill Murray é genial, e aí o assunto caiu no final do filme, o que remeteu a melhores finais de filmes, e de finais foi para começos de filmes, e aí ela falou. Eu pensei, ela falou. Se vocês olharem lá atrás em algum lugar tem um Top 5 melhores começos de filmes, e nele está o Era Uma Vez no Oeste. O post inclusive foi motivado por esse filme, eu acho. E foi o filme que ela citou. Sim, estávamos há 5 minutos conversando, não nos víamos há 8 anos, e estávamos falando do melhor começo de filme de todos os tempos. E a expressão que ela usou não foi o insosso "um começo muito bom" ou o bobo "um começo legal de filme é o...". Não. Personalidade. Ela afirmou - "o melhor começo de filme de todos os tempos é o de Era Uma Vez no Oeste!" (o de todos os tempos é por minha conta, mas foi algo do tipo). E ficamos mais 10 minutos falando do Era Uma Vez no Oeste. Bateu 9:25 e eu tinha que ir pro meu filme. Nos despedimos, e foi isso. Nada de conversas chatas, papos bobos, lembranças que não quero lembrar. 15 minutos de filmes, sendo 10 de Sergio Leone. E aí cada um pro seu lado.

Genial. Modo não banalizado.

Tuesday, October 04, 2005

Uma entrevista comigo mesmo e um presente

Eu - Você comeria sushis feitos pelo Churchill?
Eu - Talvez. Ele os faria fumando charuto e bebendo whisky?

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Ganhei um dicionário Scots-English e English-Scots de uma amiga de São Paulo. Foi um dos presentes mais geniais dos últimos tempos. Em breve poderei proferir frases inteiras na língua dos habitantes do norte da Grâ-Bretanha ou assistir Trainspotting sem legendas. De preferência com um puro-malte na mão.

For the sake of momentum

Não tenho do que reclamar. Um monte de coisa legal tem acontecido. Mal está terminando o Festival do Rio e já começa uma mostra de cinema nórdico no CCBB. São 10 filmes, 2 de cada país - Islândia, Suécia, Noruega, Dinamarca e Finlândia. É fato que um filme nórdico já sai com muitos pontos de vantagem, então se não for muito ruim não tem erro. Os da Islândia então já estão com a partida ganha. Mesmo se forem ruins não vão ser ruins, porque são da Islândia. E depois tem o TIM Festival. E depois ainda começa a Mostra de Cinema de São Paulo. Sempre dá pra arrumar trabalho por lá. De preferência numa sexta, pra emendar.

Monday, October 03, 2005

Dos problemas de porte no trabalho

Hoje fui entrevistar uma menina candidata a estágio. Boa aluna de economia da PUC, bom CR, bons estágios, bem recomendada. Parecia bom. Duas pessoas foram entrevistá-la antes de mim. 10 minutos cada uma mais ou menos. E aí fui eu.

Meia hora depois retorno. Alguém resolve comentar comigo "nossa, quanto tempo! Estava batendo papo com ela?". Aí me toquei - estava!!! Comecei a fazer uma retrospectiva da entevista e vi que precisava mudar.

Cheguei na sala, cumprimentei a menina com um "fala" e um movimento com as mãos, tipo índio, palma da mão levantada. Me sentei com os pés numa outra cadeira, peguei o currículo dela, falamos da PUC, economia, estágios e aí perguntei o que ela gostava de fazer. Ler ela disse. Que livros?, perguntei. Já esperava a resposta - ah, li Código da Vinci, O Monge e o Executivo, revistas de informática... Que nada. Ela respondeu que estava lendo um Sabato e um Kundera! E o Kundera era o Risíveis Amores ainda, um livro menor! Perguntei se ela gostava de literatura do leste europeu. Conversamos sobre os russos. Meu Deus, era uma entrevista pra uma corretora ou uma editora? Falamos do Festival de Cinema, do Malan, das reportagens engraçadas da Economist, da Tour de France. No final ainda disse que ela tinha que estudar menos e ler mais! Levantei a palma da mão novamente, disse tchau e saí. Lamentável. Percebi que faço isso em todas as entrevistas. Talvez eu mude a partir de agora. Talvez.

hmmm...hmmmmmm...hmmm..hmmmmmmm

Desde pequeno tenho pequenas fixações que duram algum tempo. Estou no meio de uma delas e nada posso fazer a respeito. Portanto, eis um Top 5 Atuações do Bill Murray.

1. O Dia da Marmota - Sensacional, pequena e injustiçada obra-prima do cinema. Bill Murray rabujento e mal-humorado num filme irritantemente legal.
2. Caça-Fantasmas - o filme que me ensinou quão grande ator ele era. Filmaço, aliás. Peter Venkman foi um dos maiores heróis da minha infância. Sim, enquanto os outros brincavam de comandos em ação e guerra nas estrelas eu me divertia com meus bonequinhos dos caça-fantasmas.
3. Encontros e Desencontros - o filme que o consagrou como um ator a ser respeitado. Até então era um dos maiores injustiçados do cinema. Aí foi até indicado ao Oscar e não gostou nem um pouco de não ter ganho. Nem eu. a cena dos dois vendo TV na cama é uma aula.
4. Flores Partidas - O filme é ele. E é espetacular. Só isso. Espero que a injustiça histórica seja reparada e ele ganhe o Oscar.
5. Steve Zissou - Bill Murray fazendo o que mais sabe. Momentos antológicos num filme igualmente antológico. Outro que me arrisco a dizer que não funcionaria sem ele.

Menção Honrosa: Cradle Will Rock.

Ih, me esqueci do Nosso Querido Bob, que tem a cena da refeição. Bem, deixa pra lá. Já foi. E vou tirar o quê?

Sunday, October 02, 2005

Prefácio

O pessoal da Travessa vai fazer biquinho e chorar mas não mudo a minha opinião. Descobri a melhor livraria do Rio. Já sabia que ela existia, já tinha ido lá, mas nesse Festival ela se tornou minha segunda casa, meu local de almoço e jantar, local das prazerosas leituras entre-filmes ou apenas palco da observação alheia. Trata-se da Prefácio. Mais uma vez a Teoria do Gueto, especialmente no Festival. O lugar é (bem) frequentado pelos fanáticos do Festival e normalmente pelo público do Estação e do Espaço. É simpática, tem uma entrada bonita, os livros são bons, tem um balcãozinho e três áreas de café espalhados pela loja. Meu preferido é o segundo andar mais pro fundo da loja, onde é possível sentar e observar todo o movimento da loja. A música é boa, na altura certa, as pessoas são discretas e o cappuccino bastante bom. Com o tempo consegui até criar um método de identificação das pessoas que entram, ainda não comprovado empíricamente - mas quem liga pra isso afinal?

Na entrada, após o balcão, tem uma estante com os lançamentos. É fácil perceber quem é quem pelo modo de lidar com esse balcão. Passar reto exclui a pessoa, mas aí ela recai em duas possibilidades - ou não dá a mínima mesmo e merece a fogueira, ou já tá cansada de ver os livros que estão ali e aí é uma pessoa do bem. Tem a pessoa que entra e mira nos livros errados - sim, é preciso saber exatamente qual é cada livro da estante. Se a pessoa se interessar, por exemplo, por um livro de contos que me esqueci o nome mas é algo do tipo "contos fantádticos no labirinto de Borges" é uma pessoa picareta, falsamente legal. Um livro desses é pega-trouxa total. Talvez ela esteja querendo te impressionar com um suposto interesse por borges. Tadinha. Uma noz podre, como diria o wonka. Vai pro buraco. Tem outros livros que nem mercem ser olhados - aqueles com uma faixa de papael em volta escrito "mais de 200.000.000 milhões de exemplares vendidos na França", coisas do tipo. A maioria das pessoas vai direto nesses, infelizmente. Provavelmente nem conhecem muito, são facilmente atraídos por faixinhas. Almas perdidas. Um padre faria bem a elas. Mas tem as pessoas legais. Essas entram, olham os livros certos, riem dos livros errados, uma passadinha nos cds de jazz, sobem ao café - mezzanino, mais ao fundo - e sacam um livro de sebo enquanto degustam um cappuccino e esperam pelo próximo filme - do leste europeu, nada de orientais porque elas abominam esse filmes.

Teorias no entre-filmes

Drummond é ruim. Drummond tem bons momentos. Drummond escreveu um zilhão de livors. Será que se aplica ao Drummond a teoria dos macacos?

Teoria dos Macacos - se você colocar um macaco por 1 milhão de anos batendo numa máquina de escrever ele acaba escrevendo "Guerra e Paz".

Mas Tolstoi não é grande coisa. E tem o Turguêniev, que é um russo famosos dessa época mas pra lá de chinfrim. Ele entra na Teoria do Puxador de Votos.

Teoria do Puxador de Votos - Numa eleição, os partidos sempre colocam alguns figurões como candidatos a deputado para puxar votos. Como o Énéas, que não última eleição acabou tendo tanto voto que puxou mais 6 mulambos com ele. O mesmo ocorre na literatura, cinema, música. Basta ter sido russo e escritor na segunda metade do século XIX para ter se troando famoso. Dostoievski e Tchekhov atuando como puxadores. A mulambada vem atrás. Bastava ser diretor de cinema na dinamarca dos anos 90 para ser vedete dos festivais. Lars e Vinterberg puxadores. E por aí vai.

Porque enfatizar é preciso

O Bill Murray é muito bom, não?

Um fraco, eu

Tinha promtido fazer um mnte de coisa neste Festival. Entre elas, não escrever sobre os filmes antes do final. Mas já quebrei tudo mesmo então vai lá.

Estava programado para ver um filme russo e um documentário na noite de hoje. Tudo corria bem até que resolvi ver o que tinha entrado em cartaz no lugar de "Uma Mulher Para Hitler", que não tinha sido liberado. "Ah, entreou Broken Flowers, senhor". Hmmmm. Bill Murray. Tinha esnobado o filme. Não ia ver nada grande, que pudesse ver depois. Mas é como ficar de dieta e uma pessoa começar a esfregar um salmão defumado com cream chesse na sua cara. Difícil resistir. Fui para a bilheteria torcendo para estar lotado. Não estava ainda. Eu, como fraco, sucumbi e larguei meus dois desconhecidos pelo Bill.

Sábia decisão. Belo filme. Jim Jarmusch, odeio admitir, é bom. Bill Murray? Um gênio. Alá encarnado em ator. Um filme bom, com um ator estupendo e um final bizarramente perfeito. Candidato a melhor do ano.

Podem dois filmes com o Bill Murray serem os melhores do ano?