Thursday, September 29, 2005

Por um mundo menos pior

Cartas. Ninguém mais manda cartas. Uma pena. Resolvi voltar a enviá-las. É mil vezes mais legal. Você pega um caderno e começa a escrever. Normalmente no metrô. Escrevi a metade da minha carta de reinauguração do serviço nas barcas de Niterói. Foi genial. É muito diferente dos malditos emails. Totalmente impessoais, ridículos. Protoclares, coisas de reuniões de trabalho. A carta te dá trabalho. Você tem que escrever, dobrar a folha, colocar num envelope, levar ao correio, enviar. E ainda espera um tempo até chegar. Como é demorado você acaba escrevendo mais. Como é manual você acaba escrevendo fluxos de pensamentos, o que é sempre mais legal.

Espero que as pessoas respondam.

Thursday, September 22, 2005

Picaretagens

Algumas picaretagens explícitas no Festival, beirando o ridículo. E não falo daquelas óbvias - Lars VonTrier, Vintenberg, Gus Van Sant. Tem coisa pior. Um diretor estreante, por exemplo, fez Bloom. sim, claro, baseado no livro. Quanta pretensão! Deve ser horrível. E tem um filme baseado num dos melhores livros dos últimos tempos - Amor Para Sempre, do Ian McEwan. O livro é sensacional. O filme deve ser horrível. Já dizia o Kubrick que para fazer um bom filme você tem que pegar um livro horrível.

Wednesday, September 21, 2005

Só está saudável quem tem a cuspida do Canhotinha

Estou tentando fechar a programação do Festival. Adotei algumas regras para este ano.

1. Nada de filmes famosos e que estrearão depois. Teoria do Gueto cada vez mais forte - quem gosta mesmo vai nos desconhecidos.
2. Estou focando na Mostra Latina. Sim, estou numa fase latino-americana, como comprovam minhas últimas viagens e leituras.

A regra 2 pode conflitar com a 1, mas aí ganha a 2. Não posso deixar de ver o El Aura nem Roma só porque vai estrear depois. E o Bill Murray fica pra depois.

Ainda preciso de ajustes, amanhã fecho tudo. E aí vou pra internet comprar tudo porque não tenho mais saco nem idade pra ficar na fila...bem, a verdade é que não tenho tempo por causa daquela coisinha chamada trabalho. Eu queria sim estar na fila. No primeiro dia. Mas enfim...

Tuesday, September 20, 2005

Tzzzzzzzzz

Dia das pessoas chatas no metrô hoje. Na ida, ônibus lotado e me aperto ao lado de dois mega playboys que conversam irritantemente no mais puro dialeto carioca sobre lutas, mulheres e sacanagens no trabalho. Não consegui ler direito. Entro no metrô, me estabeleço, e logo chegam os dois chatos. Que continuam falando em altos decibéis e carregado sotaque carioca as imbecilidades de sempre. Até a Estação Carioca.

Na volta, uma mulher atrás de mim na fila começa a perguntar sobre o ônibus, as paradas e tal. Normal, sou solícito, respondo. E ela não para mais de falar. Até o Leblon. 30 torturantes minutos ouvindo uma chata, que comenta do ônibus, da opção de vir do centro de ônibus normal, dos ônibus que ela pode pegar, do cheiro do churros, do trabalho, da filha, da vida. Sem parar. E eu lendo. Inacreditável.

O dia em que eu for o Déspota Esclarecido do país mando todos pra fogueira.

Monday, September 19, 2005

O começo do fim

Você sabe que está ficando velho quando ignora solenemente as atrações de rock do Tim Festival e compra uma mesa para o palco de jazz - esnobo completamente o chato e superestimado Strokes para ver o bom Wayne Shorter.

Mas o show do Moby foi muito bom, então nem tudo está perdido...

Ele vem aí

Sonhos de Bunker Hill já em compasso de espera. Faltam 4 dias para o começo do Festival do Rio.

Da melhor trilha sonora de todos os tempos

Magnolia. Divina. Tinha me esquecido quão boa era. Aliás, nos 3 tocadores de cd do meu aparelho de som há 3 trilhas sonoras, três das melhores trilhas sonoras de todos os tempos (um Top 5 faz-se necessário, mas depois, depois...) - Steve Zissou, Magnolia e Selma Songs. Capturam todo o espírito dos filmes, comme il faut. E isso talvez seja mais uma prova de como a música está ficando para trás nos meus gostos - ouço trilhas sonoras, o que sempre condenei, talvez porque me lembrem dos filmes também e seja uma outra maneira de vê-los - não tenho como justificar para mim mesmo assistir Magnolia toda hora.

Thursday, September 15, 2005

Planos para a aposentadoria

Tenho feito planos para a minha aposentadoria precoce. Um amigo pretende se divorciar aos 41 e se aposentar aos 42, comprando um barco, uma equipe, e participando da America´s Cup.

Sou mais ousado. Não vou me separar porque não vou me casar. É mais fácil. Vou me retirar mais cedo também - 36 é minha idade. Mais 11 anos de labuta e está feito. Esteja eu como estiver. A situação futura decidirá meu destino. Tenho 4 opções.

A primeira é a opção pobre. Nada deu certo, o que ganhei não deu nem pros shows e filmes. Nesse caso, vou para um mosteiro europeu que fabrica cervejas. Vivo às custas da Igreja. Bélgica é um bom lugar. Alemanha também não é descartável. Com o tempo, aumento a produção, faço redes de distribuição da cerveja, abro o capital. Vai ser legal. Probabilidade: 10%

Segunda opção: ganhei um dinheiro, mas nada que emocione. Vou ter que me virar. Compro toneladas de havaianas, litros de cachaça. Abro um quiosque brasileiro em Munique. Começo com churrasquinho de gato, caipirinha e chinelos. Se for bem, posso crescer e terminar com uma rede de bares brasileiros na Alemanha. Probabilidade: 40%

Terceira Opção: dinheiro legal. Dá pra ter uma vida confortável. No Brasil. Na Europa, sobrevivo. Fico 2 anos viajando pelo leste europeu. Termino na Rússia, onde me associo a alguma mafioso local, caso com a filha de um magnata de petróleo e passo o resto dos meus dias bebendo vodka, nadando no rio gelado e supervisionando os negócios do grupo no Leste Europeu. Talvez fiquei com uma casa de massagem na hungria. Talvez compre um time na Inglaterra. Indefinido ainda. Probabilidade: 40%

Quarta Opção: Milionário. Vendo tudo, compro uma vinícula em Provence, dou em cima da filha do presidente da Dassault. Passo o resto da vida fazendo e enchendo a cara de vinhos, participando de feiras, indo aos Festivais de Cinema europeus e intermediando a venda de mísseis para os árabes e o Chavez. Talvez assassine o Godard e fique famoso. Direi que fiz isso influenciado pelos contos do Salinger. Probabilidade: 10%

De como ficar no vermelho

O mundo é injusto. Reclamo que nada acontece no Rio de Janeiro. De repente, vem tudo ao mesmo tempo. Show do Moby a 100 reais. Festival de Cinema, e agora não sou mais estudante. Uns 20 filmes a 15 reais cada - 300 reais. Tem um mini festival de Jazz no Mistura Fina com Ron Carter. 60 reais só pra entrar. Aí tem o Tim Festival - 120 reais pro Wayne Shorter, 120 pro McLaughlin, 70 pro Kings of Convenience.

Como disse um amigo, o dinheiro, o dinheiro...

PS: Mas o mundo não é tão injusto assim porque existem almas justas nele - uma delas me fornecendo o ingreso para o Moby.

Tuesday, September 13, 2005

Pequenos grandes momentos

- Cricket numa praia semi-deserta com irlandeses ,britânicos e caipirinhas
- Filosofia sob as estrelas em uma praia com francesas
- 1 hora e meia numa traineira lotada, em pé na varanda, ao som de Foxtrot e Selling England By the Pound, do Genesis

Wednesday, September 07, 2005

Caipiranhah

Não posso pensar num jeito melhor de terminar a noite do que cantando God Save the Queen com 2 ingleses e uma alemã num bar lotado, pouco depois de uma guerra de pipoca doce e reproduções de trechos do Monty Python, e com uma conta indicando 33 caipirnhas dos mais diversos tipos no colo.

Regozijai-vos, ele voltou

Tim Burton está de volta. Após um período meio sombrio e de filmes não muito interessantes, o cara voltou a velha forma. A Fantástica Fábrica de Chocolate foi só o aperitivo. Vi o trailer do novo filme dele - uma animação, na verdade - Corpse Bride. É genial, um daqueles raros trailers que te deixam muito feliz. O mundo dos mortos é alegre e colorido. O dos vivos, triste e preto-e-branco. A atmosfera do filme é perfeita. O velho e bom Tim Burton está de volta. É como reencontrar um velho amigo.

Tuesday, September 06, 2005

Back in the USSR

Troquei as cordas do meu baixo, comprei cabos, limpei o amplificador. Voltei a tocar. Foi apenas um dia mas já foi legal - tirei Paranoid Android do Radiohead e Momentum da Aimee Mann, e fiquei tocando essas duas músicas por um bom tempo. Vai ser legal.

Sebosos

Almocei no trabalho. Está ficando praxe almoçar no trabalho quando vou fazer minha visita semanal ao Beringela. Assim, tenho mais tempo para os livros e para o Cappuccino e posso até começar algum dos livros no café. A idéia é perfeita, a execução nem tanto. O grande problema é que sofro de Mal dos Tentáculos Para Livros (MTPL).

O MTPL é uma doença rara, especialmente no Brasil (mais comum na Argentina, vejam vocês, e uma epidemia na França, é o que dizem), que cria tentáculos em você quando você está numa livraria ou numa sebo (a forma mais comum). Esse tentáculos grudam em alguns livros e não há jeito de soltá-los a não ser comprando-os. Não é de toda má, essa doença. César tinha epilepsia, pombas! Mas dói no bolso, isso sim.

Na sexta tive um dos piores ataques de MTPL dos últimos tempos. Bastaram 15 minutos no Beringela para 7 livros grudarem nos meus braços e acabei tendo que comprá-los todos. Mas foi um belo dia, pois graças ao MTPL achei uma das melhores aquisições da minha breve história literária.

Mas conto dela mais tarde. Primeiro, as aquisições normais. 2 Rubem Fonseca - Feliz Ano Novo, que é mais pra ter mesmo porque já li todos os contos e Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos, um romance que ainda não li - tá, o cara é bom mesmo de contos, mas esse parece especialmente bom. O Caso Morel é bem legal, A Grande Arte nem tanto, vamos ver o que sai desse.

(Pausa para desabafo - Estão filmando Mandake, seriado de 12 episódios sobre o advogado e investigador que é o personagem mais clássico do Zé Rubem. Superprodução e tal. Tudo perfeito, exceto pelo fato de o Mandrake ser o Marco Palmeira! Péssima escolha. Malditos!)

Consegui também O Grande Gatsby, recomendação de uma boa fonte. Curto, tranquilo, não espero muito mas vamos ver. 2 Argentinos também - 1 Cortázar, O Exame Final, e 1 Soriano (autor do bom Uma Sombra Logo Serás) com contos ambientados numa Buenos Aires de sonho, levemente inspirada na Viena de Schnitzler ou na NY de Kubrick. Não tem como ser ruim. Um Virginia Woolf, que é na verdade um presente para uma Virginia Woolf amiga. E ele. A maior aquisição dos últimos 150 anos.

Pergunte ao Pó. John "mão-no-peito" Fante. Até aí tudo bem. Mas é uma ediçãozinha de 1987. Com tradução do Paulo Leminski. Sim!!!!!!! Editora Brasiliense. Artigo raríssimo, felicidade garantida para qualquer frequentador de sebo no Brasil. O chato é que a mulher sabia disso e cobrou 25 reais pelo livro. Mas tudo bem, vale a pena. As traduções de verdade do Fante. Fiquei tão orgulhoso que voltei de Táxi pra casa, do Centro, só pra não ter nenhuma chance de ser assaltado e me levarem o Fante.

E tem a melhor citação de página de trás (como se chama isso?) da história.

- Quem é seu autor favorito?
- Fante
- Quem?
- John F-a-n-t-e

Genial. Às vezes é bom sofrer de MTPL.