Tuesday, October 25, 2005

De sebos e editoras

Dicas valiosas me levaram a um sebo novo, no Paço Imperial. O ligar de fora parece uma lojas de cds e é mesmo, mas tem um sebinho ali no canto, escondido. E assim que tem que ser mesmo. Tem um sebo em Ipanema que me recuso a entrar que faz até propaganda. Tudo bem que é na carrocinha de pipoca da praia, mas ainda assim comercial, e não pode. Mas enfim, o o sebinho escondido escondia também coisas maravilhosas, como a valiosa dica havia dito. Uma breve olhada na mesa com livros jogados e avistei uma edição da Brasiliense de Pra cima com a Viga, Moçada e Seymour: Uma introdução. É o livro com dois contos muito bons (o primeiro mais que o segundo) do Salinger, e com a tradução boa, dos anos 80. Basta dizer que o espetacular Pra cima com a Viga, Moçada virou Carpinteiros, Levantem Bem alto a Cumeeira. Não tem comparação. Edição rara, e o preço refletia isso. Ao lado havia uma tentativa de biografia do Salinger escrita por um inglês maluco. Mas legal. Comecei a ler para ver qual o nível de picaretagem do negócio mas decidi que deveria ler quandi li um pedaço onde ele dizia que na adolescência só se interessava por meninas que houvessem lido e entendido Apanhador no Campo de Centeio e isso é genial. Nunca cheguei a isso mas não é de todo uma má idéia. Seria um bom filtro. Estava um pouco atrasado para encontrar a senhorita valiosas-dicas, mas ela avisou que estava mais atrasada ainda e resolvi ficar mais por lá. Neste momento o dono se aproximou e começou a comentar sobre o Fante, e as edições boas, e a conversa partiu para as famosas edições da Brasiliense. Por exemplo, as traduções que importam do Fante são as da Brasiliense, do Paulo Leminsky. E ele contou toda a história da editora. Disse que pertencia a um cara que era muito inteligente e gostava de lançar coisas novas e acabou fazendo história no mercado editorial nos anos 80. Mas ele gostava muito de moto e acabou morrendo num acidente. A mulher pegou a editora mas era feminista e tal e quebrou rapidinho. O cara que o ajudou a fazer a Brasiliense foi o Luiz Schwarcz, que com a morte do cara saiu e fundou a própria editora, a Companhia das Letras. Depois do momento fofocas editorias ele falou que a Brasiliense foi a primeira revolução do mercado editorial. A segunda foi a Companhia das Letras e a terceira a Cosac & Naif. Não entendi bem os motivos, porque se a Brasiliense revolucionou pelos lançamentos bizarros para a época e Cosac & Naif só revoluciona por ter livros bonitinhos, mas quase sempre de autores antigos, nada de novos lançamentos. Mas essa é a opinião dele. Saí de lá, fui para um café e pensei um pouco a respeito de editoras. Fiz um Top 5. Não coloquei a Brasiliense porque não vale editoras quebradas.

Top 5 Editoras

1. 34 - A simples coragem de traduzir do russo todas as obras do Dostoievski já bastava para ser a melhor editora do Brasil. Mas ainda lançam outros russos e pessoas do leste europeu. Agora ainda lançam contos do Dostoievski com análise e tudo. Genial.
2. Editora do Autor - Bem, só conheço deles a caixa dos livros do Salinger (menos o Carpinteiros... que é da Companhia das Letras. E é a tradução ruim. E pensando agora, a Companhia deve ter roubado o catálogo da Brasiliense. Ou parte dele. Talvez somente as traduções ruins. E o que era bom traduziram mal. Malditos!). E espero que não tenha nada além disso. Porque uma editora que lança os livros do Salinger merece estar aqui.
3. Companhia das Letras - É gigante, sim, mas não tem jeito. Lançam de tudo, e as obras horríveis que vendem muito sustentam as menores e boas, como o Saer. E os livros são bonitos, as páginas são amareladas, isso vale. Sem contar que quando o Schwarcz a fundou ele foi ao Rubem Fonseca, ofereceu maior grana pro cara e o roubou da Rocco (bonus!), que era uma mega editora, trazendo o cara pra uma editorazinha então desconhecida. E eles lançaram o Arco Íris da Gravidade. e O Paulo Henriques de Brito traduz pra eles.
4. Cosac & Naif - Eles não lançam quase nada de novo, mas aquelas edições de capa dura e folha boa são uma tentação. Tem Stendhal, Tolstoi, uma galera escandinava. São uns crápulas, porque você tem que comprar as edições bonitas. Dizem que ela é parte de um grupo empresarial imenso. Não dá dinheiro, só charme.
5. L&PM Pocket - Pockets são legais, mas sempre foram sinônimo de livros ruins de capa feia. Mas a coleção da L&PM é boa, tem ótimos livros (2 Fantes, por exemplo) e as edições são bem honestas. E custam 11 reais.

3 Comments:

Blogger Unknown said...

Bom top 5, apesar da picaretagem total de colocar a Editora do Autor em segundo (acho que seria o primeiro lugar num top 5 Picaretagens feitas em top 5). Eu já li em algum lugar - um blog, penso - a história de como a Brasiliense era legal e quebrou e como a Companhia das Letras passou a ser legal e cresceu muito e virou gigante, mas meio que esqueci.

11:00 AM  
Blogger Werner Daumier-Smith said...

Eu avisei que er ameio picareta. Mas uma editora que só edita Salinger tem algum valor, não? Esse tal de Autor deve ser um cara legal. E a história da Companhia das Letras é legal mesmo. O episódio de como ele roubou o Rubem fonseca é sensacional - foi até a casa dele, encheu o saco, ofereceu uma montanha de dinheiro e roubou um livro que iria ser lançado em pouco tempo, o Vastas Emoções. E isso tudo numa editora cheirando a talco. Duas semanas depois a Veja queria fazer o Rubem Fonseca reportagem de capa com o livro novo, mas ele não quis e o Schwarcz o apoiou nisso. Tudo que a Veja queria em troca era entrar na casa dele, tirar algumas fotos, nada de especial. Daí o Schwarcz apoiou o cara mesmo isso sendo ruim pra editora, ganhou a confiança, e o resto é história.

7:54 PM  
Blogger Werner Daumier-Smith said...

eu admito, a picaretagem foi explícita ali no Top 5. Os outros até que estão bem, mas a Editora do Autor foi uma forçazãozinha de barra. Mas ela é legal, sim, livros do Salinger e tudo. E quanto aos critérios, corto os excessos e deixo apenas esse, que tal? Acho que esse diz muita coisa, muita coisa mesmo. E segundo consta a Cosac & Naif é parte de um grande grupo empresarial, ela não dá lucro mas serve pra dar charme aos negócios doa árabes riquinhos e tudo. É justo.

12:24 AM  

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