Monday, February 28, 2005

De como não me tornei Ministro de Estado para música britânica

Quase perdi um amigo hoje. Ele havia ficado espantado com uma declaração sábado de que Radiohead é melhor que Beatles. Ao comentar o absurdo comigo, concordei. Quase apanhei. Tudo bem, tudo bem, Beatles é aquela coisa né, todo mundo gosta, é o mais famoso, influenciou até o Einstein na Teoria da Relatividade, etc. Mas Radiohead é melhor.

Para provar, usarei a Teoria das Médias dos Discos com Direito a Um Descarte (TMDCDUD). Essa teoria serve para comparar bandas dentro de um contexto de notificação (sic) dos álbuns, com direito a um descarte sob certas circusntâncias. Por exemplo, o primeiro álbum pode ser descartado. Além disso, ter um álbum no meu Top 5 vale um bônus.

Iniciarei a análise por Beatles. Primeiro, as notas. Deixo claro já que o primeiro álbum deles eu descarto porque é muito ruinzinho.

With the Beatles - Um 2 quae pendendo pra 1
Beatles for Sale - Um 2 bem 2.
A Hard's Day Night - Um 2 melhorinho, mas ainda assim um 2 bem redondo
Rubber Soul - O primeiro 3. A banda começa a ficar boa. Mas ainda um 3 sem embasamento, com bons e nem tão bons momentos
Revolver - Um dos melhores, excelente músicas mas ainda assim peca por umas musiquinhas muito chinfrins ali no miolo. Um 3,5 sendo o primeiro negrito dos caras.
Sgt. Pepper's - 4. Acho que esse não tem muita discussão né? Apesar de tudo não é aquela obra-prima inesquecível. E ainda tem a constribuição brochante do George.
Magical Mystery Tour - 4,5. Esse é dos meus preferidos, com ponto alto no final.
White Álbum - Um 4 com viés esquizofrenia. Coisas boas, outras nem tanto, mas é muito maneiro até por toda a esquisitisse.
Yellow Submarine - Estou sendo bonzinho. Vou descartar também.
Let it Be - Po, não né? Com aquela orquestração toda do Phil Spector então, nem se fala. Um 2 capenga.
Abbey Road - O único que se pode dizer inesquecível, clássico, obra-prima e pr aí vai. Dá pra ouvir do começo ao fim com um sorriso de orelha a orelha. Um 5.

Bônus? Nenhum. Não estão no Top 5. Vamos a média: 3.2. Nada mal.

Vamos ao Radiohead. Esquece o Pablo Honey.

The Bends - Um 4 seguro. Belo álbum de rock.
Ok Computer - O Álbum? Sim, sim, sim! Um 5. Feliz.
Kid A - Outro 5. Opa! Dois 5 seguidos. Acho que isso já merecia um bônus. E ainda tem A Famosa Sequência (bônus A Famosa Sequência???)
Amnesiac - Um 3,5 com garra. Tem aquele quê de sobras de estúdios mas ótimos momentos. Se Kid A e Amnesiac fosse um álbum duplo...
Hail to the Thief - Um 4,5 com um final antológico.

Bem, não são tantos álbuns, mas acho que já dá né? E ainda tem um bônus de 0.1 por Ok estar no meu Top 5. Vamos a média: 4,4+ 0,1 = 4,5.

E assim venceu o Radiohead. Por esse prisma acho até difícil ser batida como melhor banda de todos os tempos. Bem, tem o Smiths, mas não sei não.

Estou à espera do apedrejamento. E nem falei Jeovah!

Um pedaço de protesto

Registrando o protesto pelo Clive Owen não ter ganho o Oscar.

Wednesday, February 23, 2005

71,5%

E a partir de então
Midas, com seu toque,
Tudo em minério de ferro transformará

Tuesday, February 22, 2005

De Como Não Reli o Livro

Fui citar o Brás Cubas e acabei com o livro na mão morrendo de rir e com vontade de relê-lo. Como estou lendo outros dois livros, e na ânsia de rerereler as memórias póstumas do nosso finado, acabei ficando nos capitulos mesmo e descobri uma maneira deliciosa de leitura. Recomendo a todos uma leitura no prefácio do Brás Cubas. Alguns capítulos são muito bons:

- Em que Aparece a Orelha de uma Senhora
- Chimène, qui l'eût dit? Rodrigue, qui l'eût cru?
- O Menino É Pai do Homem
- Triste, mas Curto
- Curto, mas Alegre
- O autor Hesita
- Coxa de Nascença (melhor capítulo da história!)
- Bem-Aventurados os que Não Descem
- A propósito de Botas
- Que Escapou a Aristóteles

Bem, tem muito ainda mas já chega. De qualquer modo os capítulos são em maiscúlas, portanto recobro minha consciência e voltam os títulos em maiúsculo.

Aberta a temporada de caça ao salmão

Agora que já passou há tempos posso emitir uma opinião melhor a respeito.

Closer é bom pra cacete. Foi dado um 4 quando vi, ainda continua um 4 e talvez seja um 4 mesmo, mas é um 4 bom, um 4 que deixa feliz.

Muitas vezes há um filme 2 que é melhor que um filme 3. É meio difícil de explicar (diabos, não é sua nota? como pode?) mas é assim mesmo. E dentro das mesmas notas também existe isso. Há, por exemplo, filmes 4 que você assiste e fala "po, é um 4, maneiro" e filmes 4 que te deixam embasbacados no final como Closer, o filme de amor mais bonito desde Embriagados de Amor, obra prima do melhor diretor da nova geração - título que era do Moodysson e foi perdido após o decepcionante A Hole in My Heart. Aliás, Embriagados é o único filme que não consegui dar nota ainda. Talvez um 4,5 mas é difícil. Enfim...

Closer é um filme que merece uma revisitada em breve, acredito pertencer ao estilo kubrickiano de filmes, que você precisa ver mais e mais vezes e cada vez é melhor que a anterior.

O que me lembra que o único filme dele que eu não gostava TANTO era De Olhos Bem Fechados, mas isso porque só tinha visto no cinema e em casa uma vez. Depois revi e achei melhor. Aí li o Breve Romance de Sonho e depois revi o filme novamente, anteontem. E é bom pra caramba. Continua o pior dele da fase pós-Lolita, but who really cares? Mais um 4 feliz.

O que me lembra de Curtindo a Vida Adoidado. Mas isso fica para um outro post. Deixemos o terreno livre para o salmão e seus algozes.

Título em minúsculas para texto nenhum

A Guerra Psicológica Está a Toda

"London calling to the faraway town now war´s declared and battle comes down"

E se ele vier com Scorcese eu contra-ataco de Mark Twain nas mãos recitando os melhores piores momentos do Hemingway!

Porque o Blog Precisa Pagar Suas Contas

Um pouco de comercial, espero ganhar alguns chopps em troca.

O Bota Abaixo Para 2065 (http://2065dc.blogspot.com/) - Blog sobre o que deve ser feito para a festa de 500 anos do Rio de Janeiro em 2065, do meu amigo Fabrício. Idéias sobre a total destruição e reconstrução da cidade, o que não faria mal de maneira alguma. Alguma idéias sobre isso amplamente discutidas em andanças recentes por Santiago, enquanto olhávamos os modernso edifícios de escritórios da capital chilena e sonhávamos com edifícios de 80 andares no Centro do Rio.

Femea de Cupim (www.femeadecupim.blogspot.com) - Blog do meu companheiro de discussões cinéfilas, literárias e musicais, com resenhas e idéias muito boas sobre estes temas. O único problema dele é gostar tanto do Scorcese e ter adorado Gangues de Nova Iorque, mas tudo bem, embora ele tenha andado meio preguiçoso ultimamente.

Havia um blog de oposição com nome de barco, mas ele infelizmente não durou muito.

Monday, February 21, 2005

Contra o Destino, Suco de Limão Com Mel

Talvez a idéia fixa seja neutralizada por uma não-idéia fixa.

Por exemplo: não consigo me decidir sobre o melhor álbum do REM - Murmur ou Automatic For The People? O primeiro é o álbum de estréia, de 1983, ainda bem cru, com aquele jeito grunhido de cantar característico do Michael Stipe do começo de carreira, cheio de energia, músicas maravilhosas e letras muitas vezes esquizofrênicas. O segundo é uma obra-prima cuidadosamente composta, trabalhada, gravada, e isso após o sucesso estúpido do também excelente Out of Time, e isso mudando totalmente de estilo em relação a este. Músicas lindas, letras idem, tudo perfeito.

Mas não sei qual o melhor. Costumo colocar o Automatic porque preciso dele para minhas listas Top 5 álbuns, onde o REM precisa se fazer presente.

Deus livre o leitor de uma não-decisão!

Ideiafix

Já dizia Brás Cubas: "A minha idéia, depois de tantas cabriolas, constituíra-se idéia fixa. Deus te livre, leitor, de uma idéia fixa; antes um argueiro, antes uma trave no olho. Vê o Cavour; foi a idéia fixa da unidade italiana que o matou. Verdade é que Bismarck não morreu; mas cumpre advertir que a natureza é uma grande caprichosa e a história uma eterna loureira."

Temo. Tenho uma idéia fixa: Salinger e Pynchon são a mesma pessoa.

Sunday, February 20, 2005

Um Dia Ideal Para o Modo Woody Allen

Um dos modos mais geniais de se passar o sábado no Rio de janeiro é ativando o Modo Woody Allen (MWA). Com o MWA ligado, fui a Livraria da Travessa, comprei 3 livros após uma longa procura - entre eles o sensacional Breve Romance de Sonho, do Arthur Schnitzler, que já matei e é muito bom - passei no Estação Ipanema para um filminho e depois saí andando o resto da noite pelo Leblon, passando por livrarias, cafés e bares. Terminei a noite tomando um chopp após encontrar amigos em um bar. Isso umas 5 horas depois do filme, já de madrugada. Voltei feliz pra casa.

Friday, February 18, 2005

O Fórum Mundial Anti-Social

Ano que vem promoverei, na mesma época do Fórum Social Econômico e do Fórum Social Mundial, o Fórum Mundial Anti-Social. Só eu, mais ninguém. Ainda assim, mundial. Vai bombar.

Família, Família - Vovô, Vovó, Sobrinha

Ganhei um livro do meu tio de BH. É de resenhas, bem interessante. O cara é professor de grego antigo da UFMG e também escreve. Um dos textos é extremamente interessante. É chamado Notas de Rodapé Para Texto Nenhum e consiste em umas 15 páginas de notas de rodapé com todo o resto da página em branco. E as notas de rodapé tratam de semiótica à literatura grega, da semântica de palavras em italiano à biografia de figuras inexistentes. Achei maneiro. Depois coloco o nome do livro aqui porque não tô com ele agora.

A Sistemática Comtemporânea, Ma Non Troppo

Assaz interessante o movimento em torno do Código Da Vinci. Não, não li. Nem pretendo. Não é bom. Mas e daí?

O fenômeno é interessante e não era visto há tempos. Bem, eu nunca vi, mas não deve ser o primeiro nem será o último. No metrô, no ônibus, na praia, na rua. Nas rodas de discussão literária (sic), em qualquer lugar, só se fala nos livrinhos do cara. Nas livrarias o treco vende como água. No trabalho é motivo de discussão.

Tenho uma teoria, de que os leitores desse livros são novos leitores, ou seja, pessoas que não têm o hábito regular de leitura. Se a teoria estiver correta, é um fator positivo, sem dúvida. Com uns 12 anos li toda a coleção Operação Cavalo de Tróia e adorei, e isso serviu como trampolim para outras leituras melhores. Não acredito que muita gente vá passar do Código para melhor, mas se pelo menos 1% o fizer já será um ganho. Mesmo assim, é complicado pela idade das pessoas que estão lendo.

Código sem dúvida veio preencher uma lacuna, cooptando adeptos da leitura fácil e instigante, daqueles que lêem Sydney Sheldon. Não devemos culpá-los ou maldizer o livro, ele cumpre perfeitamente bem seu papel. Tem todos os elementos que agradam neste tipo de leitura - do ritmo rápido às pegadinhas, do final surpresa aos capítulos curtos.

Engraçado é que no Orkut cheguei outro dia a uma comunidade chamada Inteligentes Sim, e Daí? Bem, e daí que quando fui ver o que rolava, já extremamente desconfiado (que diabos de nome! que tipo de pessoas se acha inteligente sim, e daí?) havia um tópico sobre leituras. Abro e vejo que toda a discussão se dava em torno dos livros do Dan Brown. De vez em quando surgia uma alma dissonante falando de Dostoiesvki, Machado, mas era ignorado (Dosto quem?) e o assunto voltava aos códigos da vida.

Resta aos leitores de Joyce e Dostoieveski, como sempre, a reclusão e uma atitude blasé, pois parece que somos alienígenas. "Não leu Código da Vinci? Tsc tsc, esses não leitores...". Adianta argumentar que estou lendo Os Demônios?

Tuesday, February 15, 2005

No Chile os Gordos Não Têm Vez

Desobri a melhor bebida do mundo: Pisco. Misturada com coca, é o drink perfeito para uma bebedeira antológica, e no dia seguinte você ainda acorda inteirinho.

Pequenos Desprazeres da Vida Moderna - 2

Você está chegando pelo portão do seu prédio e tem alguém saindo. A pessoa vê que você está chegando e segura o portão. Aí você tem que sair correndo para entrar logo e não deixar a pessoa segurando tanto tempo, e a pessoa quer que você chegue logo pois quer ir embora. Um saco. Muito mais fácil seria deixar o portão bater e o porteiro abrir de novo, afinal ele está lá o dia inteiro praticamente só pra isso. Mas também deixar o portão bater vai parecer um ato deselegante. Não tem saída! Deveria haver uma campanha de conscientização "bater o portão não é falta de ducação".

Visto de Lado é Horizontal

A coisa mais divertida de andar de avião é quando está chegando. O cara vai lá, te avisa que vai pousar em minutos e é pra fazer aquilo tudo que se faz nesta hora. Até então, olhar para a janela era quase como olhar fotos, coisas estáticas, não se distingue muita coisa. Mas quando ele está pousando, você vai chegando mais perto da cidade, e começa a olhar as coisas mais de perto, e mais de perto, e se aproxima da vida, dos movimentos, e quase consegue escutar as pessoas. Nesse momento escolho alguns locais e congelo neles, tentando imaginar o que se passa. Uma casa por exemplo. Pessoas cozinhando, vendo televisão, brincando, jogando baralho. E são várias casas, ininterruptas, sem parar, e você cruza várias vidas com a sua, sem que elas saibam, mas você sabe. E se aproxima mais, você vê os carros em movimento, pessoas andando, é mais vida, mais coisa. Como várias estações de rádio entrando e saindo de sintonia.

Até que se pousa, e aí você abandona sua posição superiora, o observador privilegiado, e se torna mais um naquele turbilhão. A cidade ganha vida repentinamente.

É ótimo ver e não ser visto.

Thursday, February 03, 2005

A Arte da Tradução

Filme: agente da CIA atrapalhado se infiltra na KGB e cria confusões.
Nomes em português: Um Agente Muito Louco - Desventuras na URSS - Deu a Louca na CIA - Loucuras no Kremlin

Filme: Turista americano se envolve em mil e uma confusões no Rio de Janeiro
Nomes em português: Um Turista Muito Louco - Desventuras no Rio de Janeiro - Deu a Louca na Turistada - Loucuras no Pão-de-Açucar

Filme: Ladrão de banco atrapalhado se envolve em confusões ao pegar como refém menininha muito travessa
Nomes em português: Um Assalto Muito Louco - Desventuras no Assalto - Deu a Louca nos Gatunos - Loucuras no Assalto

E por aí vai...

Tá feia a coisa hoje.

Que Fim Dar a Todo o Dinheiro Que Você Não Possui

Você é rico. Errado. Você não é rico. Mas você pretende dar um fim a toda a riqueza acumulada através do trabalho dos outros que você, na verdade, não tem. Mas isso é detalhe.

1. Monopolizar a venda de Biscoitos Globo na praia. contrate todos os vendedores, pague bem a todos, contrate jagunços para apagr os que não são seus vendedores. Monopolize a venda de biscoitos em Ipanema e Leblon. Seja o famoso dono dos Biscoitos Globo. Faça com que todos saibam que o dono é você e não o fiando Roberto Marinho. Faça com que o CADE haja contra o abusivo monopólio de biscoitos na praia. Brigue muito, esperneie no Fantástico, reclame dos impostos que você na verdade sonega, garanta seu lugar na FIRJAN.

2. Comprar todos os cinemas da cidades e passar apenas programações bizarras. Dê um jeito de coibir a entrada de novos concorrentes, obrigue os UCIs da vida a vender seus mega complexos a você. Use a violência para isso se preciso for, ameace a mulher do presidente. Transforme aqueles medonhos complexos e um cinema apenas, com 2.000 lugares e programação retrô dos anos 70. Faça propaganda dos bons tempos do cinema, substitua as pipocas pelos seus Biscoitos Globo. Compre políticos para impedir a entrada de concorrentes. Reclame de Hollywood, do cinema nacional, das produções francesas, garanta seu lugar na ANCINE.

3. Patrocinar manifestações pluripartidárias contra a guerra, a paz, o capitalismo, o comunismo. Coopte jovens que não têm o que dizer, aprticipe do Fórum Social, destrua plantações transgênicas para em seguida doar milhões para estudos transgênicos da Embrapa. Quebre o Burger King do Iguatemi, nade no Tietê e na Baía de Guanabara, abra sua cobertura para eventos de arte naif. Torne-se um mártir da globalização, do imperialismo ianque. Pregue que tradição brasileira é comer Biscoitos Globo. Candidate-se a presidente pelo PV.

4. Comprar todas as raspadinhas do mercado. Contrate milhares de pessoas para isso. Raspe como um louco, ganhe todos os prêmios, faça fila na porta dos bancos para receber seus prêmios, e gaste tudo em raspadinha novamente, e assim sucessivamente.

Que post bobo...


Grandes Momentos no Metrô - 1

Da Carioca à Cinelândia foi normal. Bastante gente, as aparências cansadas de sempre. Mas na Cinelândia entrou uma mulher. Com uma harpa. Sentou-se no chão, tirou a harpa da capa e começou a tocar.

O som da harpa é bonito pra caramba, e ela tocava direitinho. Misturado com a batida do metrô, o som da harpa produziu um efeito hipnotizante sobre os passageiros, e rapidamente fez-se um silêncio profundo. E assim foi até a Cardeal Arcoverde, onde ela saltou.

Aí todos saíram de seu transe e voltaram a exibir suas caras de sono, de tédio, de raiva, retomaram suas leituras e voltaram para suas vidas.

Wednesday, February 02, 2005

Uma Dúvida

Irá A Comentadora tecer comentários sobre seu próprio post?

Tuesday, February 01, 2005

A Comentadora Se Manifesta

Texto da Raquel, publica aqui na íntegra. Um comentário: os motoboys não estão sendo solidários com o colega morto, estão na verdade com o mesmo pensamento que permeia os soldados na guerra, como no Nascido Para Matar, quando todos estão em volta ao corpo de um colega do pelotão dizendo palavras bonitas até que alguém comenta "antes ele do que eu". É mais ou menos por aí.

Não vai ser bem um comentário dessa vez. Digamos que vai ser uma intervenção no Fase, como esses artistas metidos que fazem intervenções em espaços públicos porque acham que todo mundo tem que ver o que eles fazem. Enfim...No caso, intervenho num lugar, de certa forma, público, mas para poucos, e todos conhecidos. Deixo então registrada minha necessidade de me comunicar ativamente (A comentadora passiva saiu de cena por alguns minutos...). É sempre bom ter alguém do outro lado e, “dado que” leitores internacionais foram devidamente banidos do meu rol de leitores* (merci, Consiglieri!), cá estou eu na minha dita intervenção inevitável.

A história: estava eu num transito horrível, sentada num ônibus idem (a pior linha do Rio), lendo Calvino que falava sobre leveza – tentando (em vão) encontrar um pouco de paz no nosso cotidiano caótico. O trânsito horrível só podia ter dois motivos no sentido Barra-Zona Sul: tiroteio ou batida (ou violência ou acidente, pra dar um pouco da legerete que o Calvino disse que faz bem pro texto). A dica do tiroteio foi dada pelo trocador, que foi quem começou a especular sobre a causa daquilo tudo, opção logo descartada depois que vimos passar mais carros de bombeiros do que de polícia. Alguns kms e vários minutos depois, estava lá, um corpo estendido no chão, coberto com aquele plástico preto, no lado direito da pista do Elevado do Joá. Pelo visto, era um motoboy. Por quê? Eram muitos os motoboys solidários perto do corpo, e muitos deles um tanto tensos, falando no celular. Além disso, um acidente do tipo é mais provável de acontecer “em se tratando” de um motoboy. Especulo...Especulo também sobre a suposta solidariedade entre os motoboys e a expressão animada dos muitos bombeiros que estavam por lá. Especulação um pouco mechant, confesso: os motoboys seriam solidários porque temem que aconteça o mesmo com eles e a solidariedade não seria mais do que um medo disfarçado, a constatação de que aquilo pode acontecer com eles também e que então é melhor ter cuidado. Sobre os bombeiros, bem, deve ter sido um dia agitado, descer pela corda até o mar, procurar um corpo, traze-lo de volta subindo pela corda...Bem, imagino que tenham escolhido a profissão para passar por emoções desse tipo, não?, e elas não acontecem todo dia...Enfim, chega de maldade, de volta ao acidentado: morreu de forma insólita num lugar idem. Pra mim, aquela é uma das passagens mais bonitas do Rio; sempre viro o pescoço de lado pra ver o mar azul que se estende sobre nossos olhos num dia bonito, pra ver o horizonte lá longe e ter uma sensação boa de vida, enxergar um futuro distante, uma “promesse de bonheur”. Estranhamente, hoje fazia um frio danado, um tempo feio, o mar cinza que só se via a metade e uma bruma branca encobrindo tudo. Um dia soturno e sombrio, um bom dia pra me encontrar com a morte e pensar sobre a vida e o que fazer dela até o dia em que a bruma branca chegar...

Enfim, a conclusao desse pensamentos divagantes virá num próximo post que provavelmente nunca escreverei.

E então até.


* Rol de leitores? Ui!