Tuesday, December 28, 2004

O Krill, Este Ser Desconhecido ou Texto Caótico em Noite Quente

A melhor definição de cidade é "o lugar onde você vê todo mundo mas ninguém te vê". Trata-se de condição necessária para que um lugar me agrade, numa atitude que chamaria de "arcadismo elevado a -1". Não gosto de lugar provinciano.

Também não gosto do Scorsese. Tudo bem que o cara fez Taxi Driver. Tudo bem que Taxi Driver é foda. Tão foda que já me rendeu um belo papo filosofia-de-praia sobre ele, e filmes fodas geram papos filsofia-de-praia (condição necessária mas não determinante).

Imenso parênteses. Filosofia-de-praia é o mesmo que filosofia-de-botequim, mas na praia. É usualmente considerada inferiora a sua prima, talvez pela falta de um inebriante poderoso como o álcool para turbinar o papo. Bem, temos o sol, que faz até atirar em árabes, mas não é a mesma coisa.

A discussão sobre Taxi Driver foi boa: tentei fazer uma analogia entre Travis e o Raskolnikov, ficou até legal, talvez escreva um pouco sobre isso um outro dia. Fecha parênteses.

Bem, não é que eu não goste do Scorses, o cara é bom e tal, mas é um pouco sobrevalorizado. Aquele estilo "estou me repetindo em quase todos os filmes que faço" não me agrada, e creio ser tudo um imenso 3, talvez um 3,5 na média, pra ganhar um negrito, um pouco de aparição por cara não ficar chateado. (para um maior entendimento sobre as notas, ver www.femeadecupim.blogspot.com).

Mas vi um filme dele que gostei muito, chamado "After-Hours". Acho que é um 4. Muito cedo pra dizer, mas gostei bastante.

E o que é melhor do filme é Nova Iorque. Um lugar onde você vê todo mundo mas ninguém te vê, impessoal, frio, gelado, escuro, sujo, feio, grande, caótico, maluco, bizarro, cruel, estranho, engraçado, sonâmbulo, lexontan e cocaína, coca-cola, caviar. E por tudo isso genial, talvez o mais genial dos lugares (pensei em Londres também, mas não é a mesma coisa). Acho que o filme merece um 4 por Nova Iorque. Se fosse em qualquer outro lugar seria ruim.

Cidade é isso. Andando um pouco se chega a um lugar onde ninguém te conhece. O metrô abre 24 horas, bares e restaurantes também, há boates loucas por todos os lados, habitantes paranóicos, milionários, putas, estudantes, freiras, bares, cinemas, sujeira, imigrantes, taxistas enlouquecidos (pode substituir por motoristas de ônibus enlouquecidos, se houver os dois um bônus).

O Rio tem um pouco disso (se não tivesse não haveria Rubem Fonseca). Mas é pouco. Está longe de Nova Iorque.

É isso, em um filme 4, a personagem principal, Nova Iorque, é um 5. E o Scorsese mostrou que pode ser um bom diretor quando quer.





Anti-Aristóteles

É atribuída a Aristóteles a frase "no meio, a verdade"(é?). Sinto, mas discordo do rapaz.

No caso, em relação aos livros. Livros dão prazer nos extremos - ou um livro novo à la Cosac & Naif ou aquele bagulho de 3 reais de um sebo. Mais ou menos me irrita.

O que dizer daquelas edições capengas de folhas brancas e diagramação de máquina de escrever? Ou livros semi-novos comprados em sebo, com preços quase de livraria? Lixo!

Quero os extremos, edições perfeitas de livrarias idem ou aqueles livros-ácaro com páginas se soltando pinçados de sebos caóticos no Centro do Rio. No primeiro caso, a leitura indicada é na cama com o ar ligado. No segundo caso, metrôs e ônibus são uma boa pedida, embora tenha experimentado recentemente a leitura em cafés, o que tem me agradado bastante.


Monday, December 27, 2004

Ainda Há Esperança

O cenário era caótico: num grande palco, algumas figuras tocavam (sic) funk. Algumas pessoas dentro de uma corda, dançando (sic) funk. Algumas pessoas do lado de fora da corda, curtindo (sic) o funk. E isso na Rua Dias Ferreira, e isso numa sexta à noite, e isso em um local entre a Letras & Expressões e a Dantes Livraria, e isso onde deveria estar ocorrendo a Micareta Literária. No lugar de pessoas declamando Yeats, Joyce, encenando Dostoievski, lendo Guerra e Paz - é o que eu imagino de uma Micareta Literária - havia o funk.

Era pra ser a festa de lançamento do Paralelos, galerinha nova da cena literária carioca que já tem um site bacana.

"Não há esperança", pensei, e fui tomar meu chopp em outro lugar.

Outro dia fui informado de que a Micareta Literária ocorreu na Cinelândia. E o que era aquilo? Provavelmente a festa de final de ano de uma academia playboy-bombação da Dias Ferreira.

Provavelmente não houve pessoas gritando Thomas Mann pelas ruas do Centro, talvez nem mesmo uma encenação in loco de "A Arte de Andar nas Ruas do Rio de Janeiro", com Rubem Fonseca interpretando Augusto (cujo nome verdadeiro é Epifânio).

Ainda assim não foi o funk.

Ainda há esperança.


Thursday, December 23, 2004

Hai Kai De Um Economista

Mas nem ele esperava
Uma queda tão grande
No Risco Brasil



Tuesday, December 21, 2004

Nós Sempre Teremos Paris

Apenas alguns Top 5´s em uma tarde chuovsa.

Top 5 Livros

1. Crime e Castigo - Dostoievski
2. O Estrangeiro - Albert Camus
3. O Arco Íris da Gravidade - Thomas Pynchon
4. Os Sofrimentos do Jovem Werther - Goethe
5. Eu Servi o Rei da Inglaterra - Bohumil Hrabal

Top 5 Começos de Filme

1. Apocalypse Now.
- Floresta, "The End", o vocal começa junto com a explosão do napalm. Helicópteros em fade que se confundem com o barulho do ventilador do quarto de Williard em saigon. Calor, inferno. "Saigon. Shit." Palavras geniais de início. ( sempre que estou com muito calor, suando, penso nisso, "saigon. shit".)
2. Era Uma Vez no Oeste.
- Minutos e mais minutos de silêncio em uma estação fantasma no velho oeste. Brincadeiras com moscas no rosto, roda de vento, espera de um trem. Chega o trem, tiroteio rápidíssimo termina com tres mortes. Sensacional. Dizem ser a maior apresentação da história do cinema. Se não me engano, são 28 minutos.
3. Laranja Mecânica
- "There was me, that is, Alex and my three droogies, that is Pete, George, and Dim." Sensacional começo misturando narrativa alucinada com um cenário espetacular de mulheres peladas que servem leite com alucinógeno pelos peitos. Beethoven tocado em sintetizadores ao fundo. Korova Milk Bar é o lugar.
4. Monty Python e o Cálice Sagrado
- A parte da apresentação é genial. Palavras em nórdico. O responsável pela apresentação é demitido. Volta a apresentação. Tudo com alces. "alce convidado", "Camera-alce". O novo responsável é demitido. Contratam um tradutor mexicano por medidas de custo. A apresentação temrina toda acelerada, em amarelo, com música mexicana (arriba, iaiaiaai) e em vez de alces, lhamas. É isso.
5. Um Dia Ideal Para os Peixes-Banana
- Sunday Morning tocando. Imagens caóticas de peixes se sobrepondo a imagens de Seymour, Muriel e Sybil. O telefone tocando, a música continua. Peixes e mais peixes.

Top 5 Cervejas

1. Karg´s Weissbier - Pequena cervejaria em Murnau, perto de Munique. Maravilhosa Weiss, lotada de trigo. Também conhecida como "Pão-Líquido".
2. Franziskaner Weiss - "Das Frische an Bayern". Mais uma cerveja Weiss, de trigo, bastante boa, fabricada originalmente em um mosteiro franciscano nos arredores de Munique. A de garrafa é a melhor.
3. Guinness - O que dizer? É guinness. É bom pra você.
4. Delirium Tremens - Representante belga da lista. Biére Blanche, de trigo, forte e boa, com uma garrafa maravilhosa e um nome espetacular.
5. Pilsner Urql - A cerveja preta da República Tcheca. Forte e encorpada.

Ainda chove. Deve estar quente. "Saigon. Shit".



Sunday, December 19, 2004

Pequenas Idéias Para Grandes Projetos - Livraria

Conversando com um amigo que é vendedor da Travessa descobri que no lugar que eu pensava ser o recanto da boa leitura vende-se Don Brown e Sydney Sheldon à rodo. Livros bons, quase ninguém procura. A maioria dos bons que saem são indicações dos próprios vendedores.

Pensando nisso e em outras coisas que não têm a ver como onde tomaria o chopp ou qual a música perfeita para a cena em que Sybil corre na praia surgiu a idéia de fundar A Livraria, o local perfeito, solo sgrado de tudo que há de bom na literatura, e SÓ do que há de bom na leitura. Conversava com o Lucas (http://www.femeadecupim.blgspot.com/) e começamos a desenvolver a idéia. Simples e eficiente, como são as pequenas idéias que resultam em grandes projetos.

A Livraria (ainda sem nome) seria no Leblon e ocuparia uma área razoavelmente pequena, pois não há tanta coisa boa assim. Haveria seções específicas para os autores - uma seção Dostoievski, uma Joyce, por aí vai - com tudo, absolutamente tudo, em todas as línguas, dos caras. Os autores seriam separados por origem. Por exemplo, a seção "Boa Literatura Americana" contaria com seções de Thomas Pynchon, John Fante, Willian Faulkner, J.D. Salinger, James Joyce e alguns outros membros de um seleto grupo.

(Se você está se perguntado o que diabos faz James Joyce nesta lista você é o tipo de cliente que queremos. Mas explico: o crítico literário italiano Sparafucili coloca a obra dos grandes autores irlandeses do século XX - Joyce, Yeats, Banville - na mesma linhagem dos autores da boa literatura americana, citando a grande influência de integrantes da família deles que migraram para os Estados Unidos sobre suas escritas. Na verdade, não acho que essa cara deva ser levado muito a sério, ainda mais depois que descobri que é crítico de literatura Veda, e do sul da Itália. Não, não se deve levar essa cara a sério. Melhor deixar a literatura irlandesa em um espaço só seu - perto do bar, ao lado da máquina de Guinness.)

Haveria ainda seções de Top 5, onde o cliente compraria pacotes prontos de Top 5's alguma coisa, especialmente embalados e mediante desconto. Por exemplo, Top 5 Livros de Fossa para um cliente que chegasse na merda e quisesse mais merda ainda ou ainda Top 5 Livros com 99 Páginas.

No começo seria difícil, pois muitos pensariam se tratar de apenas mais uma livraria bonitinha com bons atendentes, "oi, você tem o último Paulo Coelho?", "não minha senhora, aqui não trabalhamos com este tipo de coisa", isso causaria alguma estranheza, "mas isso aqui não é uma livraria?", "é mas só vende livros bons", ela sairia xingando mas assim filtraria logo o público. Este cliente nunca mais voltaria, esse é o objetivo. Queremos o "oi, tô procurando O Arco-Íris da Gravidade em Tcheco, tem alguma coisa por aí?", "não, acabou, mas temos uma edição de luxo em húngaro", "tudo bem, vou levar então", esse é o perfil do cliente da casa.

Os vendedores seriam contrataos a peso de ouro. Testes seriam aplicados. Pré-requisitos do tipo "já leu Ulysses mais de 6 vezes?" ou " quantos livros de literatura russa do século XIX, a partir de 100, você já leu?" seriam adotados como provas eliminatórias. Já pensaram o Moacir Werneck de Castro sendo vendedor? O Boris Schnaidermann e o Paulo Bezerra tocando a sessão "Leste Europeu"?

Com o tempo, o lugar começaria a ser reconhecido e cultuado. Estar nas prateleiras da livraria se tornaria um selo de qualidade. "ih, esse aí não vende na Livraria ... não!". Depois um selo mesmo, de atestado de qualidade, seria adotado. Se está lá é porque é bom. Se torna cult, passa a ser adorado, objeto de estudo. Autores implorariam, editoras fariam um lobby danado.

Nome estabelecido, centro de adoração, local de encontros, pessoas do Brasil e do mundo convergindo para suas instalações. A boa literatura sendo consumida. É claro que é uma ótima idéia.

O nome poderia ser "HAL 9000". Sim, HAL 9000 é sempre um bom nome. Exterminador de má literatura. Gostei.

"LIVRARIA HAL 9000. Casa da Boa literatura, e só dela".






Saturday, December 18, 2004

Grandes Frases Não Tão Grandes Assim - 1

"Melhor era Jesus Cristo, que não entendia de finanças e nem consta que tivesse uma biblioteca" - Ulpiniano-o-Meigo

Friday, December 17, 2004

Daumier-Smith: Uma Introdução

O cenário não poderia ser mais devastador: a destruição causada pela invasão soviética havia reduzido Haffensburg a pó. Antiga sede da Gestapo na região, a outrora rica e alegre cidade portuária era apenas um monte de escombros, fumaça e dor. A bandeira vermelha tremulava nos mastros.

Foi neste cenário desolado que junho de 1945 o pintor alemão Daumier-Smith se inspirou para sua obra-prima, "Fumaça sobre Haffensburg". Foi também a obra que inaugurou a chamada Fase Azul do pintor.

A inspiração clara foi o movimento "O Cavaleiro Azul", que congregou pintores expressionistas no sul da Alemanha no início do século XX, e cujo maior expoente é Wassily Kandinsky. O cavaleiro azul parecia flutuar por sobre o céu de Haffensburg naquele junho de 1945.

Daumier-Smith nasceu em Berlin em 1908. Filho de um comerciante e uma dona-de-casa, sua infância foi marcada pela guerra e pela mudança da família para a cidade portuária de Haffensburg. Terminou os estudos regulares em 1925 e partiu para uma temporada de 3 anos em Munique a fim de aprimorar seus estudos de arte. Foi onde travou conhecimento com os expressionistas alemães dos movimento 'O Cavaleiro Azul" e "A Ponte". Nessa estada também conheceu Gabriele, musa inspiradora de suas obras inciais, da chamada "Fase Ingênua" do mestre.

A doença de seu pai, que viria a falecer em um ano depois, o levou de volta a Haffensburg em 1928. A atmosfera da cidade em nada lembrava a alegre e cosmopolita Munique dos anos 20. Isso foi fator decisivo no desenvolvimento de sua pintura, que começou a se tornar mais sombria e reflexiva nos anos 30. Foi o começo de sua genialidade.

Sozinho na atmosfera lúdica da cidade, impactado pela morte do pai e pela recessão do início dos anos 30, Daumier-Smith se entregou de corpo e alma às artes. Passou 2 anos estudando artes gregas. Depois, se interessou pela arte revolucionária soviética, pela música barroca e por Nietzche. Passou a pintar frenéticamente, alcançando algum destaque na cena artística de Berlin. Neste período podemos destacar as obras "Marinheiros dançam em Embarcação", "Compras de Natal em um Dia Chuvoso" e "Zero Grau à Esquerda".

A ascenção do nazismo mudou o panorama das artes na Alemanha, mas não a pintura de Daumier-Smith. Alheio ao que se passava à sua volta, o pintor mergulhava cada vez mais nos estudos e se isolava do mundo. Não teve relacionamentos conhecidos, e pouco frequentava lugares públicos.

Em 1939 estoura a segunda guerra mundial, mas nem isso foi capaz de abalá-lo. Sua vida no começo da guerra permaneceu igual. Decidiu mudar sua forma de pintar, se inspirando mais no expressionismo e abandonando um pouco seu entusiasmo anterior pelas artes clássicas. Passou a trocar cartas com Kandinsky, demonstrando uma certa admirição tardia pelo artista russo, então radicado na Suiça.

Uma carta de convocação para a guerra em 1943 interrompeu momentâneamente sua carreira artística. Lutou na Rússia, na Polônia, defendeu Berlin. Suas impressões sobre a guerra, anotadas em seu diário, foram depois publicadas com o título de "Lembranças de Um Artista Quando Não-Tão-Jovem Soldado". São mais descrições sobre as paisagens das estepes, o povo e o dia-a-dia nos acampamentos do que relatos de batalhas.

Com o final da guerra, volta à Haffensburg, encontrando uma cidade arrasada. Inicia uma nova fase em sua pintura, que iria marcá-lo como um dos grandes expoentes da pintura expressionista do século XX. A Fase Azul, inaugurada com "Fumaça sobre Haffensburg", é claramente marcada, na temática, pelos sinais de ceticismo, desilusão e descrença com o mundo pós-guerra, e pelos expressionistas alemães do movimento "Cavaleiro Azul" na forma. Em "Fumaça Sobre Haffensburg", um olhar do alto procura uma cidade destruída entre a fumaça que parece emanar de incêndios e destruição, mas tudo que se consegue ver são pálidos e disformes sinais de construções, como uma civilização que se perdia nas sombras. Seus traços imprecisos e, à primeira vista, grosseiros, causam ainda mais perplexidade. Outras grande obras da Fase Azul, são "Pernas, Braços e Troncos, Mas Não da Mesma Pessoa", "Sujeito, Predicado, Sem Verbo" e "Estudo Existencialista Sobre a Não-Existência". Esta última se tornou ainda mais famosa após ser adquirida por Albert Camus em um leilão em Paris. São obras que marcaram toda uma geração de artistas europeus do pós-guerra e jogaram uma pá de cal no otimismo com o progresso pelo qual passava a Europa.

Daumier-Smith morreu em 1967, em Haffensburg. O final de sua vida foi marcado por suas incursões pela poesia, tendo lançado em 1966 um livro chamado "Poemas de Amor Para Pessoas Que Não Amam", e pelo reconhecimento tardio nos Estados Unidos, país onde nunca pisou. Ainda em vida, viu "Sujeito, Predicado, Sem Verbo" ser arrematado por US$ 66 milhões por um excêntrico milionário, conhecido na época como "o rei das salsichas de Chicago". O resto de sua obra nos anos 60, porém, é pontual e não significativa. O que ficou de Daumier-Smith foi mesmo sua fantástica obra pós-guerra, sua Fase Azul, até hoje venerada como marco da desilusão e do desencanto com o progresso da civilização.

Thursday, December 16, 2004

Tony de Ouro - O Fato e o Mito

Reportagem publicada na "Folha de São Paulo".

Da sucursal no Rio de Janeiro - "Corria o ano de 2002. O mês era outubro. Como todo outubro no Rio de Janeiro, fazia calor. E como todo outubro no Rio de Janeiro, acontencia o Festival. Trata-se do evento mais esperado pelos amantes do cinema da cidade, que são capazes de esperar 10 horas na fila para comprar ingressos para um documentário do Azerbaijão sobre a crise política em um de seus munícipios durante a longa recessão dos anos 30.

Entre esses cinéfilos estava Tony Azevedo. Jovem estudante de economia, aguardava com ansiedade o início do Festival, para o qual havia se preparado para bater seu recorde - seriam 38 filmes em duas semanas.

Um dos filmes que mais aguardava era a nova produção de um jovem e promissor diretor sueco chamado Lukas Moodysson. O filme prometia: passado na Rússia, retratava a decadência e queda de uma jovem abandonada pelos pais em um subúrbio genérico do país.

As expectativas se confirmaram. No universo de 38 filmes, o maior destaque foi sem dúvida "Para Sempre Lyljia". Moddysson era o cara.

Tony Azevedo decidiu que aquela obra-prima deveria de alguma maneira ser premiada. Não bastava liderar seu Top 5 do Festival. Precisava ser algo mais. Entre um chopp e outro, decidiu criar o "Tony de Ouro" para premiar os melhores filmes do ano.

No princípio humilde, o prêmio foi ganhando importância, até rivalizar com Cannes e Sundance como acontece atualmente. A brincadeira deu certo. Hoje, a simples indicação ao "Tony de Ouro" é sinal de prestígio, capaz de alavancar bilheterias.

Logicamente "Para Sempre Lylja" levou o 'Tony de Ouro" de 2002. Em 2003, o vencedor foi 'Encontros e Desencontros", também visto no Festival. Em 2003 ocorreu ainda uma premiação retroativa a 2001, ganhando "Apocalypse Now Redux". Advinha? Visto no Festival;

O favorito para o prêmio de 2004 é "A Vida é Um Milagre", novo filme do diretor bósnio Emir Kusturica, também visto no Festival. Correm por fora também o uruguaio "Whisky' e "O Joelho", filme de 1970 de Eric Rohmer. Vale lembrar que a premiação é destinada a filmes vistos pela primeira vez no cinema durante o ano, sejam eles lançamentos ou não.

Em recente declaração durante uma coletiva em seu escritório no posto 9, Tony Azevedo, entre uma cerveja e um espetinho de camarão, deu dicas sobre o prêmio deste ano, segundo ele já praticamente certo: "ninguém espera a inquisição espanhola".

A premiação oficial será no dia 31 de dezembro. Se a tradição de premiar filmes vistos no Festival se repetir, "O Joelho" está fora. Mas se trata de pura especulação. Até 31 de dezembro, só resta esperar."



Wednesday, December 15, 2004

A Genialidade, A Genialidade

Numa das cenas finais de Apocalypse Now, o Cel. Kurtz declama um poema, um trecho dele na verdade, para o Cap. Williard. É um trecho de um poema muito foda de T.S.Elliot, chamado "The Hollow Man". O Elliot inclusive escreveu um poema chamado "Wasteland" inspirado pelo livro "Coração das Travas".

The Hollow Man (só a primeira parte e o final)

We are the hollow man
We are the stuffed man
Leaning Toghether
Headpiece filled with straw. Alas!
Our dried voices, when
We whisper toghether
Are quiet and meaningless
As wind in dry glass
or rats´feet over broken glass
In our dry cellaer

shape without form, shade without color
Paralysed force, gesture without motion

Those who have crossed
With direct eyes, to death´s other kingdon
Remeber us - if at all - not as lost
Violent souls, but only
As the hollow man, the stuffed man

..............

This is the way the world ends
This is the way the world ends
This is the way the world ends
Not with a bang but with a whimper

Foda.

Os Axiomas de Zurique

Relutei muito em ler Rubem Fonseca. Apesar das indicações favoráveis, relutava.

E relutei. E relutei. E relutei.

Mas aí um amigo me disse que era genial e que um conto dele estava em seu Top 5. E esse amigo é o mesmo que me mostrou Pynchon, Fante, Faulkner - ou seja, bela referência. Fiquei com isso na cabeça.

Comecei a procurar uma coletânea de contos que havia saído pela Companhia das Letras mas estava esgotada. Nada nos sebos.

Finalmente lançaram outra coletânea - da mesma Companhia das Letras, com 64 contos. Comprei.

É genial.

E um conto dele já merece estar no Top 5 contos. Que vou fazer outro dia porque é muito complexo um Top 5 contos.

Axioma Nº 1: Confie nas indicações de quem te indicou Thomas Pynchon.

Saturday, December 11, 2004

Cinema, Ressaca e um Pôster na Parede

Fazer um Top 5 pode ser tão difícil como tirar as calças bêbado ou escovar os dentes falando ao telefone. Talvez seja até mesmo mais difícil, pois envolve a complicada decisão de ser grosseiro e descortês com muitos filmes, músicas ou livros que mereciam estar na lista mas você, arbitrariamente, deixa de fora dentro de um complicado processo de escolha.

Há ainda o problema temporal - o Top 5 de agora não necessariamente é o Top 5 de amanhã. Ele é o retrato do momento.

Top 5 Filmes (num sábado de chuva, acabei de acordar):

1. Laranja Mecânica
2. Apocalypse Now
3. 2001
4. Magnolia
5. Casablanca

O que chama atenção no meu Top 5 é a constância dos três primeiros colcoados. A 4º e a 5º colocação são uma zona, talvez um diretor nem se sinta tão honrado assim em estar ali pois sabe que são posições prostituídas, mas as três primeiras permanecem imutáveis de longa data. Coisa pra mais de um ano, o que, se tratando de um Top5, faz dele uma Madre Teresa de Calcutá.

E o mais engraçado é que muitas vezes tentei tirar de Laranja Mecânica a primeira colocação, naquele velho exercício de manipulação mente-coração que na maioria das vezes acaba dando certo, mas aqui não obtieve sucesso em nenhuma das tentativas.

Quando vi 2001 no cinema no último Festival do Rio pensei, enquanto viajava para além do infinito: "cara, esse é o melhor filme de todos os tempos". Mas foi um pensamento efêmero e a simples lembrança do Trailer de Laranja Mecânica, alguns minutos após o filme, manteve as posições inalteradas.

Pode-se argumentar que, como o Top 5 é momentâneo, naquele momento Laranja Mecânica perdeu a primeira posição. Mas também está nas regras do Top 5, guardadas no Grande Livro Sagrado das Listas, nas montanhas do Nepal, que decisões acerca de mudanças não podem ser tomadas "no calor do momento" (tradução capenga), neste caso enquanto eu ia de Júpiter para além do inifinito.

Certa vez também pensei em dar o cetro de ouro da lista a Apocalypse Now, talvez inebriado pelo cheiro de Napalm que exalava da TV. Mas depois tudo ficou na mesma. O mesmo velho problema com todos que adoram o cheiro de Napalm pela manhã.

Assim, amparado peal lei, as três primeiras posições permanecem inalteradas há tempos.

E os outros filmes que se degladiem pelas posições restantes.


Thursday, December 09, 2004

23:30 e nada acontece

"O dia mais feliz da minha vida ocorreu há muito tempo, quando eu tinha dezessete anos. Ia encontrar-me para um almoço com minha mãe, que estava saindo à rua pela primeira vez após longa enfermidade. Estava-me sentindo eufórico, quando, de repente, ao dobrar na avenida Victor hugo (uma rua de Paris), esbarrei num homem sem nariz. "

Certamente a felicidade está nos detalhes, e o final dela também.