Thursday, July 28, 2005

Faciamo Mile

Tem vários autores que você pode comprar sem medo porque a chance de o livro ser bom é muito alta. Mais ou menos como um filme do Kubrick. O que é novo, e estranho, mas genial, é a categoria dos livros-que-você-pode-comprar-porque-o-tradutor-é-bom-e-só-traduz-coisa-boa (vou mandar essa pro Calvino colocar na próxima edição do Se Um Viajante Numa Noite de Inverno, ahah). Estou convencido disso pelo livros traduzidos pelo Paulo Henriques de Brito. O Cara é tradutor do Philip Roth, do DeLillo, do Henry James, do McEwan - basicamente, alguns dos melhores livros que li ultimamente foram traduzidos por ele. E ainda tem o bônus infinito de ser o tradutor do Arco Íris da Gravidade e Mason & Dixie, do Pynchon. Vou começar a procurar mais traduções do rapaz e comprar.

Estranho, demasiado estranho

Ontem fiz uma das minhas saídas quinzenais do trabalho na hora do almoço para fazer o que sempre faço nessas ocasiões - Sebo Beringela e Cappuccino no Café Gioconda. Como já tinha almoçado no trabalho tinha uma hora inteirinha só pra mim, uma maravilha. Pude ficar um tempão olhando os livros no Beringela. É uma conclusão óbvia, mas quando se tem tempo o sebo é genial. Fuçando nas prateleiras inferiores do corredor escuro e empoeirado do canto descobri uma pérola - Mestres da Literatura Russa, Aspectos da Vida e Obra. 5 reais, sensacional, fiquei muito feliz. Vou para a parte dos alemães e austríacos, topo com um Breve Romance de Sonho do Schnitzler, novinho, e me lembro que queria muito, muito mesmo, ler outro livro dele, Contos de Amor e Morte, que dizem ser ainda melhor que o primeiro, um belo livro. "Nunca vou achar num sebo", penso, "vou comprar na minha próxima ida a Travessa". Vou pagar o compêndio russo, já com a nota na mão, e chega uma velhinha com uns livros para vender. Velhinhas sempre chegam com coisas boas. Olho a pilha e...lá estava, Contos de Amor e Morte, numa daquelas edições velhas lindas! Deu medo. Disfarcei, falei que ia ver outra coisa, a velhinha vendeu os livros, fui pro balcão e peguei o livro. Estranho, mas genial.

Monday, July 25, 2005

Requiem

Eu tentei, juro que tentei, mas a música não mexe mais comigo. Passei algumas semanas com o bravo intuito de procurar novas bandas, baixar coisas na internet, conversar sobre o que anda acontecendo na Escócia, mas não adianta, não rolou. Eu começava a pesquisar na Amazon sobre bandas e, 5 minutos depois, sem perceber, estava lendo sobre o John Banville ou os Espiões de Cambridge. Voltava pras bandas e me epolgava com as trilhas sonoras - um jeito disfarçado de pensar nos filmes. Diabos! Baixei umas coisas e tudo, mas não me empolguei, eu nem ouço música mais, estou ouvindo Air enquanto escrevo, preciso dizer mais alguma coisa? Sou um dos poucos que não concorda com a afirmação "todo mundo que é legal tem um iPod", não quero, é secundário, o médico até receitou como cura para a apatia musical que se abateu sobre mim mas recusei, eu quero mesmo um tratado sobre as bombas V-2 que achei na amazon ou a primeira edição do Arco Íris da Gravidade de US$ 1.500 que tem no melhor sebo do mundo em NY. Eu leio no metrô enquanto poderia ouvir música, eu penso enquanto ando de bicicleta, crio roteiros imaginários para épicos que nunca sairão do papel, enquanto poderia ouvir música. Pode ser que passe, não sei. Olho meu Fender, tadinho, jogado num canto, triste, até dá vontade de tocar, mas daí olho minha estante cheia de livros, e eu nunca li Garcia Marquez - nunca é tarde pra começar - e é mais um dia sem música.

Save Ferris

Cá estou eu falando novamente de Ferris Bueller. Tenho alguns problemas sérios com filmes que gosto muito - revejo o tempo inteiro. Isso não acontece com livros, o que só corrobora minha teoria de que livros são melhores que filmes. Mas não vou exaltar o rapaz, nem o Cameron, nõa hoje, não. O fato que me chamou a atenção desta vez foi outro.

Costumo sempre colocar um quadro como foto no MSN, Orkut, essas coisas. No Orkut sou um Kandinsky. No MSN, um Picasso. E no filme eles visitam o Museu de Chicago, e umas das obras que é focalizada, por um período até longo, é o Picasso - eu! Genial, genial, o filme é bom até nisso. Estou pensando em mudar meu nick para rei das salsichas de Chicago.

O ditador Bandini

Um dos melhores momentos em Festivais que tive, vocês já devem saber, foi no antológico Festival de 2002, quando uma menina veio falar comigo enquanto lia o Estrada Para Los Angeles, do John Fante, esperando uma sessão no Estação Botafogo 3. Era noite de sexta, e a conversa rendeu algumas saídas com a fã de Fante.

Sábado, chego da praia e enquanto faço hora para rever o Fantástica Fábrica de Chocolate dou um pulo na Travessa. Ao entrar, topo com ele, o primeiro livro que vejo - A Estrada Para Los Angeles, numa edição nova da josé Olympio, que anda relançando o cara - houve uma época que achar um Fante numa livraria era tarefa hérculea (é assim?) e felicidade garantida por algum tempo. Quando olhei o livro tocou aquela musiquinha clássica "ohhhhhhhhhhhhhh" na minha cabeça, tipo alguém achando o cálice sagrado, sei lá, algo assim. Peguei, paguei, subi para o café, sentei no balcão, pedi um cappuccino e comecei a reler o bichinho. Devo ter rido em voz alta. Alguns minutos depois vem a menina que fica na porta do café falar comigo - "oi, você não estudou no Santo Inácio?". Eu não estudei, mas e daí? Ela fala do livro, comenta que eu vou sempre lá, breve conversa, mas boa. A conclusão é óbvia - este é um livro sagrado, iluminado, poderoso! Preciso andar sempre com ele na mochila, mas não sei se funciona se não estiver lendo. Posso pelo menos reler sempre, sei lá. Mas com ele duas meninas interessantes vieram falar comigo. Um feito.

E o livro? É genial. O Bandini é Top 5 personagens. A passagem dele matando os carangueijos no porto é das melhores coisas que a literatura já produziu.

You´re Weird

O Tim Burton é foda. Tirou toda a alegria e canções felizes e fez do Willy Wonka um andrógeno com sérios problemas psicológicos. Cortou na hora certa qualquer arroubo de emoção que pudesse haver, seja com uma piada ou seja simplesmente cortando a cena. Fez da fábrica do primeiro, pequena, humilde, um monstro gigantesco e sombrio, como uma planta da revolução industrial que sobreviveu até os dias de hoje. Mas difícil escolher qual o melhor filme. Por princípio, uma refilmagem é sempre pior que o original. Mas não neste caso. E não me perfuntem o porquê!

Após rever o FFC 2005, como o batizou o Lucas, vi o FFC 1971, para comparação, e a conclusão é que se trata de filmes complementares, e não concorrentes. O primeiro tem uma primeira parte que foca muito na pobreza de Charlie e sua família criando uma dramalhão em cima disso. Mas tem ótimos sequencias na escola com aquele professor maluco e pitadas de humor britânico de alta qualidade, como quando o locutor da televisão, ao anunciar mais um golden ticket encontrado, diz que as pessoas não deveriam ficar chateadas com isso porque existem milhares de coisas mais importantes na vida, embora ele não pudesse se lembrar de nenhuma, ou quando há um leilão de wonka bars e a rainha aparece dando um lance. Mas a parte da visita na fábrica é pior. O novo é mais centrado na figura do Wonka, que é um dos personagens mais legais da história do cinema. Trocamos o chato do Charlie pelo maluco do Wonka. Ponto pro Burton. Podemos pensar num filme com a primeira parte do original e a parte toda da fábrica deste novo. Difícil mesmo é escolher a melhor apresentação do Wonka - um Gene Wilder triste mancando até que perde a bengala e cai ou uma apresentação de bonecos e música feliz que acaba com bonecos incinerados, olhos derretendo e tudo, e o wonka batendo palmas e rindo. E sem esquecer da Wonka bar - monolito negro ao som de Assim Falou Zaratustra.

Não podemos comparar, embora o Lucas diga o contrário. Mas se for pra escolher algum fico com o novo. E Oscar pro Johnny Depp!

Tuesday, July 19, 2005

Obscured by Clouds

Comecei a chegar mais cedo no trabalho, o que implica, oh! obviedade, em pegar o metrô mais cedo. Isso me deixou triste pois perdi alguns amigos clássicos, como o Pedro Malan cover, o velhinho do iPod e até mesmo o careca do chapéu preto. Aliás, me lembrei que o Pedro Malan era um dos que liam Paul Auster, e o Pedro Malan é um lord que lê coisas boas. Deveria ter prestado mais atenção aos gostos de Pedro Malan. Mas agora, horário novo, vida matutina nova no transporte público. E com grande diferença. Meia hora mais cedo, o metrô carrega muito menos gente, é tudo tão tranquilo, vazio. E, apesar do pouco tempo, já começo a fazer novos amigos virtuais, e até mesmo uma paixão está surgindo. Trata-se de uma linda guria, cabelos claros, bem curtos, carinha de bebê, bochechas rosadas e tudo, e sempre um livro na mão. Desconfio que seja gringa, pois o livro é sempre daqueles pockets em inglês, de capas moles genéricas, que são difíceis de achar aqui e, bem, ninguém lê só aquilo no brasil. Da primeira vez que nos encontramos estávamos em pé, lado a lado, no vagão, eu com meu John Banville e ela com um Bernard Shaw. Ponto pra ela. Imaginei que fosse ponto pra mim também, eu sempre imagino isso, algo como ela ser irlandesa e pensar "god, he´s reading a banville, such a nice person he is", talvez ela queresse mesmo falar comigo, mas fingi não ver seu olhar. Agora, etamos nos encontrando todos os dias, trocamos alguns olhares, checamos qual o livro do momento - estou matando um Philip Roth enquanto ela se aventura por um Don DeLillo que não identifiquei ainda o nome (estilo ela tem!). Quando é um livro novo parece que necessitamos mostrar um pro outro, esperando um leve sinal de aprovação - certo, isso é legal, pode continuar lendo. Em meus desvaneios a vejo lendo um Pynchon, o que pode ser perigoso pois eu não resistiria e falaria com ela, quebrando a regra básica número 1 das paixões subterrâneas. Por enquanto, sigo procurando por ela todos os dias e - sim, por que não? - ela por mim, o rapaz que lê Banville, espere só até ela ver minha edição rara do Yeats, aquela linda irlandesa de bochechas rosadas não resistiria a um brasileiro lendo Yeats no metrô.

Monday, July 18, 2005

25 centavos

Quando eu ando pela Travessa e fico fuçando os livros me dá um desespero pela quantidade de coisa legal que ainda não li. Se pudesse, comprava uns 100 livros por ida. Quando entro na locadora, olho, olho, olho e pareço não querer realmente nada. Os poucos filmes que prestam, já vi.

Exageros à parte, isso tem ocorrido com certa frequência. Algumas teorias podem explicar isso. As mais simples e óbvias são

1. Minha locadora é muito ruim
2. A Travessa é muito boa

Não concordo muito com a primeira afirmação mas concordo com a segunda. Não sou sócio de um lixo do naipe de uma Blockbuster ou algo do gênero, mas também não sou sócio da videoteca particular do Kubrick. Apesar de tudo, é uma das melhores que conheço no Leblon. Já a Travessa é boa mesma, muito boa, disso não restam dúvidas. Mas essas teorias são simplistas, e no refinamento do pensamento acabei caindo em uma outra discussão antiga a respeito das notas de filmes e livros. Não sei se se passa com vocês, mas é muito mais fácil eu gostar de um livro, dar um negrito a ele, do que de um filme. Acabo sendo um chato do cinema e um benevolente da literatura. Mas fato é que os filmes, em geral, são muito, muito piores que os livros. Para cada Kubrick existem 5 Dostoiveskis, é o que penso. Assim, temos uma terceira explicação, mais plausível, que seria

3. Uma locadora média é muito pior do aque uma livraria média pelo fato de filmes médios serem muito piores que livros médios

O Lucas vai chiar, vai chiar muito, vai citar o Rubem Fonseca dizendo que quem fica escolhendo muito o filme não gosta de cinema, vai me comparar ao Seu nonô, aquele comentarista da Globo que não gosta de futebol, enfim, nada posso fazer, é um constatação - na média, os livros são melhores que os filmes, por isso esse desespero pra escolher algo na locadora e a facilidade pra me satisfazer em compras na Travessa.

Babel culinária

Eu me lembro de ir a praia quando pequenos, nos anos 80, e haver apenas Biscoito Globo e mate de latão. Sei lá, devia ter também um sanduíche natural, mas não tinha muita coisa. A coisa evoluiu, perdi o momento, mas temos hoje um exército de vendedores ambulantes em ação nos finais de semana. Um exercício legal é sentar na praia e ficar observando, apenas observando. Além dos tradicionais Biscoitos Globo, mate de latão e sanduíche natural, tem camarão no espeto, abacaxi, carrinho de açaí, salgadinhos árabes, coxinha, milhões de tipos e marcas de empada, queijo coalho na brasa, sanduíche feito na hora na chapa, pizza no forno a lenha, peixe frito, sorevet Itália, entrega do Bob´s (!) e a coisa mais espetacular, que vi hoje, hot philadelphia e sashimi!!! Faltou coragem pro japonês, mas já encarei todo o resto. Destaque absoluto pro queijo coalho, mas tenho comida bastante o camarão no espeto. E nunca passei mal.

The six wives of Henry VIII

Um dos presentes mais legais que ganhei nos últimos tempos foi Noite do Oráculo, do Paul Auster. Não só pelo livro, mas pelo modo como foi dado. Noite de sexta na Travessa com o Lucas e a Clarice, conversávamos sobre preconceito com livros e filmes, ela reclamando de como eu odiava certas coisas por motivos ridículos. Eu não gostava do Paul Auster porque já tinha visto gente lendo livros do cara no metrô, e sempre me pareceu que esse é o tipo de gente que lê auto-ajuda, best-seller, as comédias todas do Veríssimo, essas coisas.

Após um sumiço de alguns minutos, volta a Clarice com o livro pra mim, um presente, com uma dedicatória "leia. é uma ordem." Certo, vou ler, foi um presente espontâneo, interessante. Matei o livro no sábado, na praia, e gostei muito, um 3,5 , negrito. É raro, mas tem gente lendo coisa boa no metrô. Pensei que alguém poderia pensar o mesmo de mim. Se trilhasse esse caminho esta semana, por exemplo, esta pessoa descartaria o John Banville do seu rol de leituras, um irlandês que é um dos melhores escritores de língua inglesa atualmente, por ter me visto com um livro dele no metrô, me colocando no rol de leitores de auto-ajuda e afins. É preciso expurgar os excessos, como diria um amigo.

Friday, July 15, 2005

Peregrinação

Os árabes têm que ir pra Meca pelo menos uma vez na vida. De preferência todo ano. E ficam lá, dando voltas no monolito negro.

Eu descobri minha Meca. É o sebo mais genial do mundo, em Nova Iorque (onde mais? bem, talvez Londres, ou Paris, mas e aí onde mais?), chamado Strandbooks. O Arthur, que me indicou, disse que os vendedores são aquelas figuras blases, estudantes de literatura e artes de Columbia, essas coisas, e o sebo é uma zona sem tamanho, tudo empilhado, maior bagunça, os caras sabem como fazer o negócio ficar legal. E é genial - você digita Pynchon na procura e descobre que eles têm a edição original do Gravity´s Rainbow, de 1973, da Viking Press, por módicos US$ 1.500. Preciso ir lá todo ano, me reabastecer, novas energias, edições originais, horas e horas fuçando nos ácaros e pilhas, coversando com os vendedores, vai ser legal, todo ano, todo ano.

(adendo) Deus, eles têm um "Department of Rare-Modern First Edition!!!!!! Quando é o próximo vôo pra Nova Iorque?

Tuesday, July 12, 2005

Freckles come out with the sun

Seria interessante se alguém fizesse alguma pesquisa sobre os nomes de livro mais plagiados da história. Tenho alguns palpites sobre os vencedores. Por exemplo, Retrato do Artista Quando Jovem já rendeu milhares de nomes parecidos, alguns até bons, como o Retrato do Artista Quando Jovem Cão, do Dylan Thomas. O péssimo Por Quem Os Sinos Dobram, da maior enganação da história da literatura, Hemingway, é muito plagiado também. E isso pra não dizer de todos os malditos livros começados com Memórias Póstumas que não valem um décimo do relógio do Quincas Borba.

Melhor, pior, igual, melhor

São Paulo é feia, todo mundo diz. O que talvez ninguém perceba é que a causa dessa féiúra toda são os fios, os malditos fios de telefone, luz, cadarço, sei lá pra que servem aqueles fios todos, mas tem fio pra cacete, e ficam lá pendurados, se misturando, parece uma favela. Aliás, há uma teoria forte sobre fios, conhecida nos meios acadêmicos como Teoria da Movimentação Noturna (TMN).

A TMN prega que quando alguns fios são colocados lado a lado, separados, tendem a se misturar de um modo incrível, sem que ninguém mexa neles. A causa seriam movimentos noturnos secretos, que visam a confusão, apenas a confusão da humanidade. Experimente guardar seu iPod na gaveta com os fios do fone soltos, no dia seguinte ele estaraá todo misturado, cehio de nós, um problema.

Bem, os fios de SP são uma exarcebação da TMN, porque ninguém mais sabe o que é o que lá.

Onde quero chegar com tudo isso? Foi sancionada hoje uma lei que acaba coma fiação aérea, obrigando as milhares de concecionárias de tudo que tem fio a colocá-los no subterrâneo. Ninguém falou muito, mas é uma revolução visual, São Paulo vai ficar bonita, sim, vai atrair turistas e tudo, e eles não vão estar lá a negócios.

Sunday, July 10, 2005

Tudo se encaixa, sempre

O que disse o melhor escritor americano - Thomas Pynchon - sobre o melhor escritor brasileiro - não, não é Machado de Assis, é Rubem Fonseca:

"Cada livro dele não é só uma viagem que vale a pena: é uma viagem de algum modo necessária".

Saturday, July 09, 2005

Duas decepções

1. A Scarlet Johansson fazendo "A Ilha". O trailer é horrível, o filme deve ser tenebroso. E ainda colocam "do mesmo diretor de Armagedon e Pearl Harbor". Dois dos piores filmes de todos os tempos! O que a Scarlet está fazendo lá?

2. O trailer de "Fantástica Fábrica de Chocolate" dublado. Tenebroso, Willy "mão-no-peito" Wonka com voz de menino na puberdade, muito ruim. Mas a parte visual do filme está muito legal, embora falte ao Johnny Depp aquele olhar sinistro do Gene Wilder...

Wednesday, July 06, 2005

Onde eu passo o asfalto derrete

A melhor construção de personagem da história é de O Cobrador, do Rubem Fonseca. Bastam 2 páginas, mais nada, para termos um personagem completo, perfeito, complexo. Um personagem que se sabe de onde vem, para onde vai, qual a motivação de tudo que está fazendo, como pensa. É fantástico. Uma cena num dentista, uma pequena atitude que desencadeia tudo, um parágrafo sobre o nada. Estão me devendo comida, boceta, cobertor, sapato, casa, automóvel, relógio, dentes, estão me devendo. Precisa de mais alguma coisa?

Um que merece menção honrosa é A Arte de Andar nas Ruas do Rio de Janeiro. Talvez entre na categoria melhor primeiro parágrafo de um conto, mas não, não é tão perfeito na contrução do persoangem como do cobrador.

Salve o Cobrador!

Carecas são uma boa fonte

Reunião da produtora ontem. Um dos caras nos inscreveu numa mostra de curtas chamada "A Organização". Temos até 20 de setembro para finalizar um curta de, no máximo, 8 minutos para apresentar pro cara dessa mostra. Caso não o façamos, ele mostrará na hora em que deveria passar o curta um vídeo difamatório contra todos nós.

Idéias, idéias. Todos os roteiros que temos são para coisas mais longas e elaboradas. Pensa, pensa. Fazer um filme sobre essas manias seria uma boa e simples idéia. Conto a história do careca. Todos gostam. Está decidido. Um filme sobre manias, girando em volta da história do careca do mau agouro. Legal. Eles querem ver o cara. Vão esperá-lo um dia na saída do metrô Carioca, a partir das 8:40 da manhã, tentando sempre não perder aquela mulher gata que está passando...

Monday, July 04, 2005

Senohras e senhores, sua majestade!

Não sei se chega a ser uma doença, ou se é um mal que ataca a maior parte da população, mas eu tenho desenvolvido uma coisa meio bizarra, acho que posso chamar de "Mal da Aposta Interna" (MAI). O MAI se manifesta basicamente quando você está sozinho na rua - andando, sentado, no metro, no onibus, em qualquer lugar. Consiste basicamente de pequenas apostas internas que, se não ganhas, trarão terríveis pragas. O pior é que muitas vezes essas apostas são decididas por coisas fora de sua alçada de poder, mas não importa. Aposta é aposta, quem mandou fazer?

Um exemplo simples de MAI aparece muito enquanto atravesso a rua. "Se eu não chegar na calçada antes do primeiro carro passar por mim vou ter que esperar 10 minutos pelo elevador". Tem também a clássica de ter que chegar a algum lugar antes de uma outra pessoa, você sai correndo pela rua, uma corrida da qual que todos participam mas só você tem ciência dela, um horror.

A mais assustadora tem acontecido no onibus do metro. Tem um cara que tem seus 30 anos mas é totalmente careca e usa ternos pretos e um chapéu preto, sempre. Se eu encontro essa pessoa acho que dá mau agouro - "se esse cara entrar no onibus o dia vai ser horrível no trabalho". E isso tinha acontecido muito, uma aporrinhação. Graças a Deus criei um antídoto: se o cara do chapéu entra no onibus preciso achar uma menina muito gata. Se conseguir, é a aposta que desfaz a aposta anterior e fica tudo bem. Se der errado, paciência. Quando a bolsa estiver caindo 6%, eu saberei que é tudo culpa do maldito chapéu preto.

Friday, July 01, 2005

A Fase Negra da New Yorker

Escrevi um tempo atrás sobre como as melhores bandas são quase sempre esquisitas num primeiro momento, é preciso tempo para se acostumar, mas depois ela passa a ser das suas favoritas e nunca enjoa. Isso vale não somente para músicas, mas também, por exemplo, a literatura. Os autores são muitas vezes estranhos, difíceis, o livro é pesado, mas ao final entra no seu Top5. Foi assim quando li Dostoievski pelo primeira vez. Foi, é e sempre será assim com Pynchon.

Talvez a, até agora "mão-no-peito" New Yorker tenha padecido do mesmo mal em 1952. Todos os contos do Salinger presentes no Nove Estórias foram publicados pela New Yorker entre 1948 e 1952. Todos?

Não!

Um pequeno conto, chamado A Fase Azul de Daumier-Smith foi o único, isso mesmo, o único que foi rejeitado pela até há pouco excelente publicação. Um crime. O editor, que deve ter sido demitido e nunca mais conseguiu emprego, carregará para sempre esta marca. Não deve ter entendido a ironia do texto, sei lá. O pior é que a revista se arrependeu depois de não ter publicado o conto, que foi escolhido por ela como um dos melhores da década. Provavelmente por outro editor. Mais um caso clássico de artista que chega antes do público geral.