Friday, February 18, 2005

A Sistemática Comtemporânea, Ma Non Troppo

Assaz interessante o movimento em torno do Código Da Vinci. Não, não li. Nem pretendo. Não é bom. Mas e daí?

O fenômeno é interessante e não era visto há tempos. Bem, eu nunca vi, mas não deve ser o primeiro nem será o último. No metrô, no ônibus, na praia, na rua. Nas rodas de discussão literária (sic), em qualquer lugar, só se fala nos livrinhos do cara. Nas livrarias o treco vende como água. No trabalho é motivo de discussão.

Tenho uma teoria, de que os leitores desse livros são novos leitores, ou seja, pessoas que não têm o hábito regular de leitura. Se a teoria estiver correta, é um fator positivo, sem dúvida. Com uns 12 anos li toda a coleção Operação Cavalo de Tróia e adorei, e isso serviu como trampolim para outras leituras melhores. Não acredito que muita gente vá passar do Código para melhor, mas se pelo menos 1% o fizer já será um ganho. Mesmo assim, é complicado pela idade das pessoas que estão lendo.

Código sem dúvida veio preencher uma lacuna, cooptando adeptos da leitura fácil e instigante, daqueles que lêem Sydney Sheldon. Não devemos culpá-los ou maldizer o livro, ele cumpre perfeitamente bem seu papel. Tem todos os elementos que agradam neste tipo de leitura - do ritmo rápido às pegadinhas, do final surpresa aos capítulos curtos.

Engraçado é que no Orkut cheguei outro dia a uma comunidade chamada Inteligentes Sim, e Daí? Bem, e daí que quando fui ver o que rolava, já extremamente desconfiado (que diabos de nome! que tipo de pessoas se acha inteligente sim, e daí?) havia um tópico sobre leituras. Abro e vejo que toda a discussão se dava em torno dos livros do Dan Brown. De vez em quando surgia uma alma dissonante falando de Dostoiesvki, Machado, mas era ignorado (Dosto quem?) e o assunto voltava aos códigos da vida.

Resta aos leitores de Joyce e Dostoieveski, como sempre, a reclusão e uma atitude blasé, pois parece que somos alienígenas. "Não leu Código da Vinci? Tsc tsc, esses não leitores...". Adianta argumentar que estou lendo Os Demônios?

2 Comments:

Blogger Unknown said...

É a história do vinho alemão da garrafa azul: alguns enólogos torcem o nariz, os mais sensatos celebram que mais e mais gente esteja enchendo a cara com vinho em vez de cerveja. Muita gente não vai passar do Cantina da Serra, mas as chances de aparecer alguém pronto para visitar os vinhedos californianos aumenta.

Em outra comunidade do Orkut - Literatura em português - rola a mesma conversa sobre Paulo Coelho. Pra mim, é melhor ler do que não ler, não importa o que for lido. Se a pessoa está no estágio da não-leitura, podemos deixar a história da qualidade pra depois, o negócio é botar um livro na mão do sujeito.

12:26 PM  
Blogger Werner Daumier-Smith said...

Esse é o meu ponto. Que venham mais livros deste. Mas que fiquem pros da base da pirâmide.

12:57 PM  

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