Thursday, December 29, 2005

Ausência

Um fato que explica: tirei uma radiografia e no lugar do fígado há uma lata de patê.

Wednesday, December 21, 2005

Motivos para gostar de São Paulo

Enquanto o Rio se enche de bares paulistas à la Informal, São Paulo se enche de botecos cariocas estilo zona norte.

Friday, December 16, 2005

Sujeito, predicado, verbo

Tive um professor na PUC que costumava falae coisas em portugues como uma tardução literal do inglês. Era engraçado, mas comecei a falar daquele jeito de sacanagem e acabei incorporando. Coisas como "isso não era suposto de acontecer" ou "você tem um ponto" passaram a fazer parte do meu vocabulário padrão, o que assusta um pouco as pessoas.

Mas o que mais assusta mesmo são os adjetivos. Tenho o costume de dar opiniões binários sobre as coisas - ou é o melhor do mundo ou o pior. Não sei bem como isso começou mas, como as traduções do inglês, foi incorporado ao meu voacabulário padrão e hoje falo sem preceber achando uma coisa normal. Ontem mesmo assustei uma pessoa com quem nunca tinha falado muito com esses adjetivos. De madrugada, em casa, impossibilitado de dormir pelo fato de a cama estar me jogando pra fora, resolvi pensar nos adjetivos e tentar criar um escala adjetival para facilitar a compreensão dos interlocutores.

A primeira escala é a de adjetivos para falar se algo é bom ou ruim. Um filme, por exemplo. Partindo do princípio de que as opiniões são binárias (não existe normal, legalzinho, mais ou menos), há a escala para os filmes bons. "Genial" é o mais fraco. Quase tudo é genial. Tão fraco que alguns amigos chegaram a criar o "genial, modo não-banalizado" para usar o genial de maneira apropriada. Depois de genial tem a listas dos melhores, em ordem crescente - "melhor da história, melhor do mundo, melhor da galáxia, melhor do universo, melhor de todos os tempos". Este último reflete algo genuinamente bom. Quando é muito bom pode-se fazer uma fusão. Me referi ao Laranja Mecânica ontem como o melhor filme da história do universo em todos os tempos. Tem também "mais genial da história (ái é preciso ver se a soma de genial com o história dá mais que o todos os tempos, por exemplo). Pra coisa ruim é mais ou menos parecido. No lugar do melhor, pior. No lugar de genial, lixo.

Tem a escala das mulheres também. O mais fraco é "perfeita", Uma mulher perfeita não é nada de especial, alguém que chama a atenção e tudo, mas nao passa disso. Pode-se falar também "gata", que é um pouco melhor. Tem o "muito gata" e o "muuuuuuuito gata", com ênfase no u, que já se refere a alguma mulher que merece ser vista. Acima disso tem o "mulher da minha vida", que também pode ser usado na forma "mãe dos meus filhos". Por fim, se eu topasse com a Kirsten, por exemplo, diria alguma coisa seguida do "se eu tivesse um anel aqui pedia ela em casamento" ou "me casava com ela agora". Quando é ruim é meio difícil, até porque se comenta menos sobre isso. Tem "mulambenta, horrorosa, lixão", "muito ruim e muuuuito ruim", "gordinha com vestido de bolas brancas", metáfora genial pros tipos esquisitos. Difícil é criar um contrário pra "mãe dos meus filhos" ou "me casaria com ela agora".

Com esses adjetivos já dá pra fazer bastante coisa. Espero que, após conscientização pública, com a divulgação desse post nos jornais de maior circulação, as pessoas não se assustem mais.

Águas Termais

Estou me sentindo como o Abracurcix no "Escudo Arverno", mas um porre comandado por 15 doses de licor Drambui não pode ser ruim.

Diabos

O que acontece com as distribuidoras? Os dois melhores filmes em cartaz atualmente só estão passando em SP - Família Rodante, filme argentino que só por causa disso já sai de 2, e Reis e Rainha, um francês que tem toda a pinta de ser o último candidato ao Tony de Ouro de 2005. Toda semana eu acho que vai entrar aqui e nada.

(Lucas, no computador, bufando de raiva) - Mas como? Ele nem viu os fimes e diz que são os dois melhores em cartaz?

And now, the punchline

(eu, virando pra câmera, cara de ironia) - É melhor eu nem falar pra ele dos planos de dar o Tony de Ouro de 2006 em janeiro.

(entram as palmas das velhinhas do Monty Python)

Thursday, December 15, 2005

(...)

A cena vai abrir um filme que farei em algum momento. Um bar (ou restaurante, ou sala) lotado, as pessos todas com presentes nas mãos, aquele sorrisinho ridículo, uma certa agitação. Jorge, o calado, resolve começar. Diz que seu amigo oculto é um estúpido, como todos na sala, aperta um botão sob o espanto de todos e explode o bar (ou restaurante, ou sala).

Wednesday, December 14, 2005

And then there were three

Assisti ontem O Falcão Maltês. Genial, um 4 com viés noir anos 40. E ainda tem o viés Humphrey Bogart. O Bogart, aliás, é o melhor ator de todos os tempos, sempre encarnando o personagem dos sonhos de qualquer homem - o cara que dá um tapa na cara da mulher, esnoba e depois pega sem maiores dificuldades, tem o emprego mais legal do mundo e nenhum coração. Um gênio.

Cole Porter

O Centro pode ter seus lugares sensacionais, mas Ipanema está se revelando um excelente local para se trabalhar. Hoje no almoço fui até a Galeria de Arte Ipanema, que está com uma exposição maneira do Dacosta, dei uma olhadinha, fui comer no Doce Delícia e depois um cappuccino na Travessa ao som de Cole Porter. O melhor é não ter um monte de trabalhadores apressados, muitos deles advogados, ocupando as outras mesas, mas velhinhas felizes, turistas ou jovens sem muita pressa ou preocupações.

Monday, December 12, 2005

More Than This

Dinosaur Comics é uma das coisas mais geniais que já li. São mais de 600 tirinhas sempre - SEMPRE! - com o mesmo desenho dos dinossauros.

Paris é aqui

O Estação Ipanema começou há umas semanas a dividir dois filmes num mesma sala. É um hábito louvável. Talvez seja o primeiro passo para o surgimento do cinema perfeito por aqui.

O cinema perfeito é aquele em cujas salas não passa o mesmo filme em todas as sessões. A perfeição seria um cinema com três salas. Uma passaria os lançamentos, mas um diferente por sessão, alternando os horários pelos dias da semana. A segunda passaria no último horário um lançamento de um grande diretor, passando filmes antigos dele nos horários anteriores. Por exemplo, Flores Partidas passando no último horário e nos horários anteriores outros filmes do Jarmusch. Daria pra fazer uma maratona Jarmusch, culminando com o último filme dele. Por fim, uma terceira sala dedicada aos clássicos - uma retrospectiva Coppola, por exemplo, em uma semana, ou semana filmes de guerra, coisas do tipo.

Ainda não chegamos a esse ponto, mas vejo os passos do Estação Ipanema como um princípio. Ontem fiz uma sessão dupla - os ruins Mean Creek e Heróis Imaginários - sem precisar sair da sala. Genial. E não fui o único. Além de mim, quatro outras pessoas ficaram na sala entre os filmes. Pensei em reuni-las no intervalo - devem ser pessoas legais, passando a tarde de domingo sozinhas fazendo sessões duplas. Uma delas, inclusive, era uma menina sensacional que se sentou lá na frente, fiquei imaginando se ela copiaria o nome do terceiro assistente ao final.

Pequenos Grandes Momentos

Sentar na escada do café da Letras & Expressões às 4 da manhã completamente bêbado lendo dicas de livros picaretas de auto-ajuda em voz alta.

Tonga ou Deu No New York Times

A teoria é forte: a Associação Comercial de Ipanema ou algo do tipo contrata mulheres perfeitas para caminhar pela Visconde de Pirajá durante o dia. Essas mulheres nunca são vistas em nenhum outro local - são de fora, passam um tempo aqui desfilando e depois se mandam de volta. Tem os tipos patricinhas, hippies, atletas, gringas, pra todos os gostos. Uma ida e volta em casa no almoço me custou umas sete paixões fulminantes - uma delas levemente correspondida.

Wednesday, December 07, 2005

Senhor Miyagi Forevis

Descobri um sítio que vende Bonsai, olha só, em Niterói! Vai entender...

Descobri também um curso de Bonsai no Jardim Botânico. Esse parece mais interessante porque é preciso saber o que fazer com o bichinho. Aliás, o meu micro jardim está infestando o quarto de formigas. Hoje apareceu uma formiga no livro enquanto lia no metrô e depois achei umas 4 na mochila.

Não é como São Paulo que tem um Bonsai esquina sim esquina não (nãs outras tem Yakissoba) mas já é alguma coisa.

Tuesday, December 06, 2005

Equivalência das Janelas

Quinta vou pra São Paulo. Dessa vez cumpro meu objetivo de voltar com um Bonsai.

Take the money and run

A Telerj não instala o telefone no escritório novo. Enquanto isso, vou ficando no Centro. Só depende do telefone, então cada dia pode ser o último. Basta a Telerj instalar o telefone e no dia seguinte vamos pra lá. Sabe a história do cara que só tem 6 meses de vida e aí sai curtindo como um louco? Estou assim. Todo dia é o último no Centro.

Hoje por exemplo. Almocei no trabalho e aí me mandei. Minha idéia de paraíso por lá é ir a algum dos Pequenos Paraísos Escondidos no Centro (PePEC). Os PePEC são oásis de tranquilidade em meio ao caos de secretárias, camelôs, advogados e guardas municipais. Tem a Biblioteca Nacional, o Real Gabinete de Leitura Português, o japonês do Edifício Central, o café do Odeon, o sebo do Paço, a Travessa da Rio Branco com seu imenso pé-direito. Mas o melhor PePEC é o subsolo do nº 185 da Rio Branco, local que abriga o Beringela, a Da Vinci e o Café Gioconda. Foi o local mais visitado por mim nestes 3,5 anos de Centro durante meus raros almoços. O almoço, aliás, é detalhe, pode ser feito no trabalho mesmo. O bom é comprar livros, tomar cappuccino, ler por 1 hora sabendo que neste tempo o mercado não fechou, só você. Semana passada, teoricamente a última, cumpri todo um roteiro por esse locais. Como ganhei sobrevida, estou repetindo os lugares nesta semana.

Hoje por exemplo. Almocei no trabalho e aí me mandei. Fui pro Beringela. Havia ido lá na sexta e comprado 4 livros. Achava que não fosse ter nada de novo, mas topei com um DeLillo - Os Nomes. Tá, hoje meu último dia, não sei quando vou coltar aqui - comprei.Ainda estou terminando o primeiro dos 4 que levei na sexta, mas não importa. Aliás, dos 4, um foi só pela edição, o Updiek acho que não vou ler nunca, estou terminando o Puig e o húngaro é fininho, então, pensando bem, não foi uma má compra. Vou furar a fila. De lá pro Gioconda, para o último melhor cappuccino da história. Comecei a ler nosso amigo americano. Sorri na irônica dedicatória do livro ao Atticus. E foi isso.

Mas até de noite nada da Telemar. Então, amanhã será novamente meu último dia no Centro. Espero não ter chegado nada de novo no Beringela.

Monday, December 05, 2005

Read all about it - Pinball Wizard in a miracle cure

Não disse que os comentários eram a melhor coisa disso aqui? Temos a revelação mais bombástica do ano nos comentários do post anterior, digna de final de novela ou algo do tipo.

Saturday, December 03, 2005

Sandálias Ipanema

O jovem parisiense tem razão. Rubber Soul levou ao Pet Sounds, e não o Revolver. Eu não podia admitir ali a derrota e invoquei Schopenhauer, até porque é tudo que uma pessoa sensata faz num momento desses. Só na concordo quanto à opinião dele sobre o Revolver. Um álbum que tem as duas melhores músicas do Paul, talvez as únicas músicas dele que realmente mereçam negrito - Eleanor Rigby e For No One - não é nem um pouco ruim ou superestimado.

Despedida de Las Vegas

Na semana de despedida do Centro resolvi tirar o almoço ontem para o Beringela. Acho que umas das coisas que mais sentirei falta é do complexo Beringela - Da Vinci - Café Gioconda. Na Da Vinci nem vou muito, é muito grande, opressiva, sei lá. Já o Beringela é um dos meus sebos favoritos. Os livros são baratos e não dá pra sair de lá sem pelo menos uns 3 livros por visita. Além disso, apesar do comportamento estranho de alguns vendedores, o casal que é dono do lugar é muito legal e adora conversar sobre livros.

E desta vez não foi diferente. Almocei no trabalho e me mandei para lá. Tinha uma hora inteira para fuçar o lugar, e estava a fim de comprar bastante coisa. De cara achei um livro estranhíssimo: Uma Agulha no Palheiro de J.D. Salinger. Como assim? Que raios de livro é esse? Fui olhar e descobri que é uma tradução bizarra de Catcher in The Rye velhíssima, de 1945. O livro tá inteirinho até e logo no começo tem uma advertência do tradutor para o título, explicando que essa frase é muito melhor que uma tradução literal. Tá bom. Não tem como não comprar. Fui para a estante dos latinos e me deparei com uma edição novinha, muito bonita, de The Buenos Aires Affair do Puig. É mais um argentino. Conversei um pouco sobre ele com a dona, ela me deu boas indicações e resolvi levar. Até porque com um título desses não pode ser ruim. Da estante dos europeus pobres levei A Exposição Das Rosas deIstván Örkény. Dos americanos normais um Updike.

Depois do tradiconal cappuccino do Gioconda, resolvi me despedir também das banquinhas de rua da Carioca. Fui numa que vendia livros a 1 real e acabei levando um Guia Brasil de 1986, um livro de ensaios políticos do Mitterand e um livro de poesia de um auto-denominado "Lord Byron do Sertão" que é terrível. Mas por 1 real...

Agora tenho que frequentar os sebos de Ipanema. Tem um horroroso que é todo limpinho e organizado que mais parece uma papelaria (Livros Livros e Livros), mas o Mar de Histórias é bom - um dos mais desorganizados que conheço, com pilhas de livros para todos os lados.

Friday, December 02, 2005

For The Benefit of Mr. Kite

Semana que vem estarei trabalhando em Ipanema, e o Metrô irá perder um de seus grandes clientes. Sabendo disso, creio que ele preparou um ato de vingança, um desabafo emocionado de mulher traída. Um "olha o que você vai perder".

Após uma longa temporada de leitores do maldito livro da pipa ou das maravilhosas auto-ajudas do vendedor pitbull e coisas afins (acho que por um longo período fiz parte do que um dia irá ser conhecido como "Turma de Ouro do Metrô" (TOM) - um grupo de pessoas que pegava o ônibus do Metrô no Leblon todo dia no mesmo horário e lia coisas legais. Entre essas pessoas tinha o Pedro Malan Cover, grande fã da literatura moderna americana (Auster, Roth e Updike), o Vovô do Iate, um velhinho que sempre estava de jaquetão com botões dourados e lia clássicos brasileiros em velhíssimas e empoeiradas edições, a irlandesa tímida e desajeitada que devorava os autores de sua terra natal e a psicanalista maluca que de vez em quando aparecia com um Schnitzler. Infelizmente tive que começar a pegar o metrô mais cedo porque chegava atrasado todo dia e sumiram as pessoas legais. Isso por 20 minutos de diferença. Teoria forte de que as pessoas legais se atrasam.), tive uma agradável surpresa hoje, quando já não esperava mais nada desse transporte coletivo. Entrei no ônibus no Leblon, me sentei, puxei meu Coetzee. Ao meu lado sentou-se uma menina bastante interessante, mas muito bem vestida. Pensei se tratar de uma advogada no pior sentido que essa palavra pode adquirir. Para minha surpresa, ela saca um O Idiota da bolsa, abre no final e começa a ler. Confesso que tremi um pouco, desejei puxar um assunto, mas ela iria odiar isso. Eu odiaria (pensei em me apresentar como Mischkin, como ficamos patéticos nessas horas!). No metrô, discretamente a segui para entrar no mesmo vagão. Ficamos de frente, mas ela não desgrudava os olhos do livro por nada. Saltou na Cinelândia, com um ar superior e debochado. Como eu nunca a havia visto, acredito que estivesse um pouco adiantada hoje. Uma pessoa dessa se atrasa. Ela não pertence a esse horário. Veio nesse horário apenas para me dar um tapa de luva de pelica.

Ela deve ser uma nova integrante da TOM.