Tuesday, December 28, 2004

O Krill, Este Ser Desconhecido ou Texto Caótico em Noite Quente

A melhor definição de cidade é "o lugar onde você vê todo mundo mas ninguém te vê". Trata-se de condição necessária para que um lugar me agrade, numa atitude que chamaria de "arcadismo elevado a -1". Não gosto de lugar provinciano.

Também não gosto do Scorsese. Tudo bem que o cara fez Taxi Driver. Tudo bem que Taxi Driver é foda. Tão foda que já me rendeu um belo papo filosofia-de-praia sobre ele, e filmes fodas geram papos filsofia-de-praia (condição necessária mas não determinante).

Imenso parênteses. Filosofia-de-praia é o mesmo que filosofia-de-botequim, mas na praia. É usualmente considerada inferiora a sua prima, talvez pela falta de um inebriante poderoso como o álcool para turbinar o papo. Bem, temos o sol, que faz até atirar em árabes, mas não é a mesma coisa.

A discussão sobre Taxi Driver foi boa: tentei fazer uma analogia entre Travis e o Raskolnikov, ficou até legal, talvez escreva um pouco sobre isso um outro dia. Fecha parênteses.

Bem, não é que eu não goste do Scorses, o cara é bom e tal, mas é um pouco sobrevalorizado. Aquele estilo "estou me repetindo em quase todos os filmes que faço" não me agrada, e creio ser tudo um imenso 3, talvez um 3,5 na média, pra ganhar um negrito, um pouco de aparição por cara não ficar chateado. (para um maior entendimento sobre as notas, ver www.femeadecupim.blogspot.com).

Mas vi um filme dele que gostei muito, chamado "After-Hours". Acho que é um 4. Muito cedo pra dizer, mas gostei bastante.

E o que é melhor do filme é Nova Iorque. Um lugar onde você vê todo mundo mas ninguém te vê, impessoal, frio, gelado, escuro, sujo, feio, grande, caótico, maluco, bizarro, cruel, estranho, engraçado, sonâmbulo, lexontan e cocaína, coca-cola, caviar. E por tudo isso genial, talvez o mais genial dos lugares (pensei em Londres também, mas não é a mesma coisa). Acho que o filme merece um 4 por Nova Iorque. Se fosse em qualquer outro lugar seria ruim.

Cidade é isso. Andando um pouco se chega a um lugar onde ninguém te conhece. O metrô abre 24 horas, bares e restaurantes também, há boates loucas por todos os lados, habitantes paranóicos, milionários, putas, estudantes, freiras, bares, cinemas, sujeira, imigrantes, taxistas enlouquecidos (pode substituir por motoristas de ônibus enlouquecidos, se houver os dois um bônus).

O Rio tem um pouco disso (se não tivesse não haveria Rubem Fonseca). Mas é pouco. Está longe de Nova Iorque.

É isso, em um filme 4, a personagem principal, Nova Iorque, é um 5. E o Scorsese mostrou que pode ser um bom diretor quando quer.





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