Daumier-Smith: Uma Introdução
O cenário não poderia ser mais devastador: a destruição causada pela invasão soviética havia reduzido Haffensburg a pó. Antiga sede da Gestapo na região, a outrora rica e alegre cidade portuária era apenas um monte de escombros, fumaça e dor. A bandeira vermelha tremulava nos mastros.
Foi neste cenário desolado que junho de 1945 o pintor alemão Daumier-Smith se inspirou para sua obra-prima, "Fumaça sobre Haffensburg". Foi também a obra que inaugurou a chamada Fase Azul do pintor.
A inspiração clara foi o movimento "O Cavaleiro Azul", que congregou pintores expressionistas no sul da Alemanha no início do século XX, e cujo maior expoente é Wassily Kandinsky. O cavaleiro azul parecia flutuar por sobre o céu de Haffensburg naquele junho de 1945.
Daumier-Smith nasceu em Berlin em 1908. Filho de um comerciante e uma dona-de-casa, sua infância foi marcada pela guerra e pela mudança da família para a cidade portuária de Haffensburg. Terminou os estudos regulares em 1925 e partiu para uma temporada de 3 anos em Munique a fim de aprimorar seus estudos de arte. Foi onde travou conhecimento com os expressionistas alemães dos movimento 'O Cavaleiro Azul" e "A Ponte". Nessa estada também conheceu Gabriele, musa inspiradora de suas obras inciais, da chamada "Fase Ingênua" do mestre.
A doença de seu pai, que viria a falecer em um ano depois, o levou de volta a Haffensburg em 1928. A atmosfera da cidade em nada lembrava a alegre e cosmopolita Munique dos anos 20. Isso foi fator decisivo no desenvolvimento de sua pintura, que começou a se tornar mais sombria e reflexiva nos anos 30. Foi o começo de sua genialidade.
Sozinho na atmosfera lúdica da cidade, impactado pela morte do pai e pela recessão do início dos anos 30, Daumier-Smith se entregou de corpo e alma às artes. Passou 2 anos estudando artes gregas. Depois, se interessou pela arte revolucionária soviética, pela música barroca e por Nietzche. Passou a pintar frenéticamente, alcançando algum destaque na cena artística de Berlin. Neste período podemos destacar as obras "Marinheiros dançam em Embarcação", "Compras de Natal em um Dia Chuvoso" e "Zero Grau à Esquerda".
A ascenção do nazismo mudou o panorama das artes na Alemanha, mas não a pintura de Daumier-Smith. Alheio ao que se passava à sua volta, o pintor mergulhava cada vez mais nos estudos e se isolava do mundo. Não teve relacionamentos conhecidos, e pouco frequentava lugares públicos.
Em 1939 estoura a segunda guerra mundial, mas nem isso foi capaz de abalá-lo. Sua vida no começo da guerra permaneceu igual. Decidiu mudar sua forma de pintar, se inspirando mais no expressionismo e abandonando um pouco seu entusiasmo anterior pelas artes clássicas. Passou a trocar cartas com Kandinsky, demonstrando uma certa admirição tardia pelo artista russo, então radicado na Suiça.
Uma carta de convocação para a guerra em 1943 interrompeu momentâneamente sua carreira artística. Lutou na Rússia, na Polônia, defendeu Berlin. Suas impressões sobre a guerra, anotadas em seu diário, foram depois publicadas com o título de "Lembranças de Um Artista Quando Não-Tão-Jovem Soldado". São mais descrições sobre as paisagens das estepes, o povo e o dia-a-dia nos acampamentos do que relatos de batalhas.
Com o final da guerra, volta à Haffensburg, encontrando uma cidade arrasada. Inicia uma nova fase em sua pintura, que iria marcá-lo como um dos grandes expoentes da pintura expressionista do século XX. A Fase Azul, inaugurada com "Fumaça sobre Haffensburg", é claramente marcada, na temática, pelos sinais de ceticismo, desilusão e descrença com o mundo pós-guerra, e pelos expressionistas alemães do movimento "Cavaleiro Azul" na forma. Em "Fumaça Sobre Haffensburg", um olhar do alto procura uma cidade destruída entre a fumaça que parece emanar de incêndios e destruição, mas tudo que se consegue ver são pálidos e disformes sinais de construções, como uma civilização que se perdia nas sombras. Seus traços imprecisos e, à primeira vista, grosseiros, causam ainda mais perplexidade. Outras grande obras da Fase Azul, são "Pernas, Braços e Troncos, Mas Não da Mesma Pessoa", "Sujeito, Predicado, Sem Verbo" e "Estudo Existencialista Sobre a Não-Existência". Esta última se tornou ainda mais famosa após ser adquirida por Albert Camus em um leilão em Paris. São obras que marcaram toda uma geração de artistas europeus do pós-guerra e jogaram uma pá de cal no otimismo com o progresso pelo qual passava a Europa.
Daumier-Smith morreu em 1967, em Haffensburg. O final de sua vida foi marcado por suas incursões pela poesia, tendo lançado em 1966 um livro chamado "Poemas de Amor Para Pessoas Que Não Amam", e pelo reconhecimento tardio nos Estados Unidos, país onde nunca pisou. Ainda em vida, viu "Sujeito, Predicado, Sem Verbo" ser arrematado por US$ 66 milhões por um excêntrico milionário, conhecido na época como "o rei das salsichas de Chicago". O resto de sua obra nos anos 60, porém, é pontual e não significativa. O que ficou de Daumier-Smith foi mesmo sua fantástica obra pós-guerra, sua Fase Azul, até hoje venerada como marco da desilusão e do desencanto com o progresso da civilização.
Foi neste cenário desolado que junho de 1945 o pintor alemão Daumier-Smith se inspirou para sua obra-prima, "Fumaça sobre Haffensburg". Foi também a obra que inaugurou a chamada Fase Azul do pintor.
A inspiração clara foi o movimento "O Cavaleiro Azul", que congregou pintores expressionistas no sul da Alemanha no início do século XX, e cujo maior expoente é Wassily Kandinsky. O cavaleiro azul parecia flutuar por sobre o céu de Haffensburg naquele junho de 1945.
Daumier-Smith nasceu em Berlin em 1908. Filho de um comerciante e uma dona-de-casa, sua infância foi marcada pela guerra e pela mudança da família para a cidade portuária de Haffensburg. Terminou os estudos regulares em 1925 e partiu para uma temporada de 3 anos em Munique a fim de aprimorar seus estudos de arte. Foi onde travou conhecimento com os expressionistas alemães dos movimento 'O Cavaleiro Azul" e "A Ponte". Nessa estada também conheceu Gabriele, musa inspiradora de suas obras inciais, da chamada "Fase Ingênua" do mestre.
A doença de seu pai, que viria a falecer em um ano depois, o levou de volta a Haffensburg em 1928. A atmosfera da cidade em nada lembrava a alegre e cosmopolita Munique dos anos 20. Isso foi fator decisivo no desenvolvimento de sua pintura, que começou a se tornar mais sombria e reflexiva nos anos 30. Foi o começo de sua genialidade.
Sozinho na atmosfera lúdica da cidade, impactado pela morte do pai e pela recessão do início dos anos 30, Daumier-Smith se entregou de corpo e alma às artes. Passou 2 anos estudando artes gregas. Depois, se interessou pela arte revolucionária soviética, pela música barroca e por Nietzche. Passou a pintar frenéticamente, alcançando algum destaque na cena artística de Berlin. Neste período podemos destacar as obras "Marinheiros dançam em Embarcação", "Compras de Natal em um Dia Chuvoso" e "Zero Grau à Esquerda".
A ascenção do nazismo mudou o panorama das artes na Alemanha, mas não a pintura de Daumier-Smith. Alheio ao que se passava à sua volta, o pintor mergulhava cada vez mais nos estudos e se isolava do mundo. Não teve relacionamentos conhecidos, e pouco frequentava lugares públicos.
Em 1939 estoura a segunda guerra mundial, mas nem isso foi capaz de abalá-lo. Sua vida no começo da guerra permaneceu igual. Decidiu mudar sua forma de pintar, se inspirando mais no expressionismo e abandonando um pouco seu entusiasmo anterior pelas artes clássicas. Passou a trocar cartas com Kandinsky, demonstrando uma certa admirição tardia pelo artista russo, então radicado na Suiça.
Uma carta de convocação para a guerra em 1943 interrompeu momentâneamente sua carreira artística. Lutou na Rússia, na Polônia, defendeu Berlin. Suas impressões sobre a guerra, anotadas em seu diário, foram depois publicadas com o título de "Lembranças de Um Artista Quando Não-Tão-Jovem Soldado". São mais descrições sobre as paisagens das estepes, o povo e o dia-a-dia nos acampamentos do que relatos de batalhas.
Com o final da guerra, volta à Haffensburg, encontrando uma cidade arrasada. Inicia uma nova fase em sua pintura, que iria marcá-lo como um dos grandes expoentes da pintura expressionista do século XX. A Fase Azul, inaugurada com "Fumaça sobre Haffensburg", é claramente marcada, na temática, pelos sinais de ceticismo, desilusão e descrença com o mundo pós-guerra, e pelos expressionistas alemães do movimento "Cavaleiro Azul" na forma. Em "Fumaça Sobre Haffensburg", um olhar do alto procura uma cidade destruída entre a fumaça que parece emanar de incêndios e destruição, mas tudo que se consegue ver são pálidos e disformes sinais de construções, como uma civilização que se perdia nas sombras. Seus traços imprecisos e, à primeira vista, grosseiros, causam ainda mais perplexidade. Outras grande obras da Fase Azul, são "Pernas, Braços e Troncos, Mas Não da Mesma Pessoa", "Sujeito, Predicado, Sem Verbo" e "Estudo Existencialista Sobre a Não-Existência". Esta última se tornou ainda mais famosa após ser adquirida por Albert Camus em um leilão em Paris. São obras que marcaram toda uma geração de artistas europeus do pós-guerra e jogaram uma pá de cal no otimismo com o progresso pelo qual passava a Europa.
Daumier-Smith morreu em 1967, em Haffensburg. O final de sua vida foi marcado por suas incursões pela poesia, tendo lançado em 1966 um livro chamado "Poemas de Amor Para Pessoas Que Não Amam", e pelo reconhecimento tardio nos Estados Unidos, país onde nunca pisou. Ainda em vida, viu "Sujeito, Predicado, Sem Verbo" ser arrematado por US$ 66 milhões por um excêntrico milionário, conhecido na época como "o rei das salsichas de Chicago". O resto de sua obra nos anos 60, porém, é pontual e não significativa. O que ficou de Daumier-Smith foi mesmo sua fantástica obra pós-guerra, sua Fase Azul, até hoje venerada como marco da desilusão e do desencanto com o progresso da civilização.
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