Thursday, December 16, 2004

Tony de Ouro - O Fato e o Mito

Reportagem publicada na "Folha de São Paulo".

Da sucursal no Rio de Janeiro - "Corria o ano de 2002. O mês era outubro. Como todo outubro no Rio de Janeiro, fazia calor. E como todo outubro no Rio de Janeiro, acontencia o Festival. Trata-se do evento mais esperado pelos amantes do cinema da cidade, que são capazes de esperar 10 horas na fila para comprar ingressos para um documentário do Azerbaijão sobre a crise política em um de seus munícipios durante a longa recessão dos anos 30.

Entre esses cinéfilos estava Tony Azevedo. Jovem estudante de economia, aguardava com ansiedade o início do Festival, para o qual havia se preparado para bater seu recorde - seriam 38 filmes em duas semanas.

Um dos filmes que mais aguardava era a nova produção de um jovem e promissor diretor sueco chamado Lukas Moodysson. O filme prometia: passado na Rússia, retratava a decadência e queda de uma jovem abandonada pelos pais em um subúrbio genérico do país.

As expectativas se confirmaram. No universo de 38 filmes, o maior destaque foi sem dúvida "Para Sempre Lyljia". Moddysson era o cara.

Tony Azevedo decidiu que aquela obra-prima deveria de alguma maneira ser premiada. Não bastava liderar seu Top 5 do Festival. Precisava ser algo mais. Entre um chopp e outro, decidiu criar o "Tony de Ouro" para premiar os melhores filmes do ano.

No princípio humilde, o prêmio foi ganhando importância, até rivalizar com Cannes e Sundance como acontece atualmente. A brincadeira deu certo. Hoje, a simples indicação ao "Tony de Ouro" é sinal de prestígio, capaz de alavancar bilheterias.

Logicamente "Para Sempre Lylja" levou o 'Tony de Ouro" de 2002. Em 2003, o vencedor foi 'Encontros e Desencontros", também visto no Festival. Em 2003 ocorreu ainda uma premiação retroativa a 2001, ganhando "Apocalypse Now Redux". Advinha? Visto no Festival;

O favorito para o prêmio de 2004 é "A Vida é Um Milagre", novo filme do diretor bósnio Emir Kusturica, também visto no Festival. Correm por fora também o uruguaio "Whisky' e "O Joelho", filme de 1970 de Eric Rohmer. Vale lembrar que a premiação é destinada a filmes vistos pela primeira vez no cinema durante o ano, sejam eles lançamentos ou não.

Em recente declaração durante uma coletiva em seu escritório no posto 9, Tony Azevedo, entre uma cerveja e um espetinho de camarão, deu dicas sobre o prêmio deste ano, segundo ele já praticamente certo: "ninguém espera a inquisição espanhola".

A premiação oficial será no dia 31 de dezembro. Se a tradição de premiar filmes vistos no Festival se repetir, "O Joelho" está fora. Mas se trata de pura especulação. Até 31 de dezembro, só resta esperar."



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