Friday, May 06, 2005

O Público se Manifesta

Ontem fui rever Bom Dia, Noite no Espaço Unibanco. Muito bom, como já havia pensado da primeira vez - um 4 bastante sólido, e ainda toca duas músicas do Pink Floyd. O cinema estava bem vazio, e atrás de mim sentaram umas pessoas que falaram o filme inteiro - estou menos rabujento e dessa vez aguentei bem o falatório alheio. O problema foi ao final, quando uma moça comentou com a outra "ah, não gostei. Mais ou menos na linha do O que é Isso, Companheiro? e Edukators, só que esses são muito melhores".

Louca, a mulher, mas interessante a comparação. Ela está pegando três filmes que tratam de sequestros políticos e comparando-os, preferindo o alemão ao brasileiro e o brasileiro ao italiano - e por matemática básica, o alemão ao italiano. Típica opinião de quem fala o filme inteiro e deve frequentar o Cine Leblon.

O fato é que o italiano é muito, mas muito, mas muito melhor que o alemão e o brasileiro. Quanto ao O que é Isso, Companheiro?, não tenho muito a comentar. O filme é ruim, tendo sido indicado para o Oscar sabe-se lá porque - talvez o viés esquerdista tenha agradado aos velhinhos comunistas de lá. Um 1, e está de bom tamanho.

Edukators é um filme bem mais ou menos que agrada aos revolucionários enrustidos e afins. Uma história bobinha, uma tendência a exaltação do bandido e condenação do mocinho, que passa a ser simpático apenas quando se vira e começa a agir como os sequestradores - é, a Alemanha não é longe de Estocolmo. Não, não se trata de um Alex de Large, por quem alguns torcem, têm pena, é diferente. O filme? É fraco, se alonga demais, se perde em conflitos secundários chatos, e ainda tem um final bobo, que leva às lagrimas os revolucionários da Vieira Souto de plantão. Um 2.

Bom Dia, Noite é o oposto de tudo isso - um sequestro político, do líder da Democracia Cristão Italiana, em 1978, pela Brigadas Vermelhas, organização socialista-comunista-marxita-leninista que se julga porta voz do proletariado. O filme narra o acontecido através de Chiara, uma mulher (fictícia) pertencente ao grupo que mantêm o sequestrado em uma casa. Enquanto leva uma vida normal no trabalho, ela vive todo o drama do sequestro que parou o país, misturando realidade e fantasia, com pena do preso enquanto se mantêm fiel aos seus ideais. O filme é belíssimo, um 4 robusto, e o tratamento dado à história é muito bom, misturando imagens de época sobre o caso com o dia-a-dia imaginário do cativeiro e todo o conflito silencioso dela. E o final é digno de aplausos.

Não tem como comparar. Cinema politico é isso. E esqueça os filminhos revolucionários dos cineastas da UFF e vá correndo ver este filme.

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