Ensaio sobre a vergonha
Sou um cara tímido e tenho vergonha de um monte de coisa. Ser o centro das atenções como motivo de uma piada em um ambiente lotado, por exemplo. Horrível. A abordagem em mulheres. Difícil. Mas o que me dá mais vergonha creio ser um fato que independe do meu status de tímido: a compra de livros ruins.
Sou razoável. Meu Index particular, coleção de livros probidos por serme ruins, nojentos, mal-escritos e afins, é grande, mas podia ser maior. Tenho paciência até, pena, não sei, de algumas pessoas que lêem umas porcariazinhas que saem, porque, coitados, não conseguem chegar a nada melhor, têm preguiça, mas poderiam. Muita coisa, porém, é imperdoável, entra no Index, e desprezo todo mundo que lê tais livros.
E é quando sou obrigado a comprar um dos livros do Index que passo vergonha como não passo em nenhuma outra ocasião. Amigo oculto, por exemplo: a pessoa pede Código Da Vinci e lá vou eu comprá-lo. Vergonha, vergonha. Acabei desenvolvendo um método para mitigar os efeitos dessas compras malditas. Alguma regras devem ser seguidas:
1. Comprar sempre em livrarias esquisitas, nunca nas que você frequenta. Compras de tal naipe nuna são feitas na Travessa ou na Argumento. Seria o fim. Uma boa pedida é comprar em livrarias de livros jurídicos. Aliás, é um fator determinante para a qualidade das livrarias. Cheia de códigos de direito na capa? É essa mesma, perfeita. A inteligência passa longe dali, e a vergonha é mitigada. A chance do vendedor olhar pra você e pensar "maldito" é quase zero. Isso se o vendedor conseguir pensar...
2. Se for pra pedir pro vendedor, levar um bilhete com o nome do livro. Assim, fica fácil se desculpar de cara dizendo não ser seu o livro - "olha, é esse livro aqui, presente de amigo oculto...". O vendedor já vai pensar de cara que é pra presente. Pode-se até fazer um comentário jocoso em cima da escolha do seu amigo, faz bem.
3. Na hora de pagar fazer questão de dizer, se possível em voz alta para que todos ouçam, que é pra presente. Melhor se embrulhar num papel escuro que impeça que os outros vejam o que se passa dentro do embrulho.
4. Um caso extremo seria na hora de pagar dizer pro livro ruim "esse é pra presente" e comprar junto um Dostoievski e dizer "e esse é pra mim". Depende da inteligência da pessoa para o qual você vai pagar. Se ela conseguir discernir um do outro, ótimo, ponto para você.
Seguir essas dicas mitiga muito a vergonha, embora ela permaneça. A solução ótima é mesmo não ter que passar por essas situações, mas aí é querer demais.
Sou razoável. Meu Index particular, coleção de livros probidos por serme ruins, nojentos, mal-escritos e afins, é grande, mas podia ser maior. Tenho paciência até, pena, não sei, de algumas pessoas que lêem umas porcariazinhas que saem, porque, coitados, não conseguem chegar a nada melhor, têm preguiça, mas poderiam. Muita coisa, porém, é imperdoável, entra no Index, e desprezo todo mundo que lê tais livros.
E é quando sou obrigado a comprar um dos livros do Index que passo vergonha como não passo em nenhuma outra ocasião. Amigo oculto, por exemplo: a pessoa pede Código Da Vinci e lá vou eu comprá-lo. Vergonha, vergonha. Acabei desenvolvendo um método para mitigar os efeitos dessas compras malditas. Alguma regras devem ser seguidas:
1. Comprar sempre em livrarias esquisitas, nunca nas que você frequenta. Compras de tal naipe nuna são feitas na Travessa ou na Argumento. Seria o fim. Uma boa pedida é comprar em livrarias de livros jurídicos. Aliás, é um fator determinante para a qualidade das livrarias. Cheia de códigos de direito na capa? É essa mesma, perfeita. A inteligência passa longe dali, e a vergonha é mitigada. A chance do vendedor olhar pra você e pensar "maldito" é quase zero. Isso se o vendedor conseguir pensar...
2. Se for pra pedir pro vendedor, levar um bilhete com o nome do livro. Assim, fica fácil se desculpar de cara dizendo não ser seu o livro - "olha, é esse livro aqui, presente de amigo oculto...". O vendedor já vai pensar de cara que é pra presente. Pode-se até fazer um comentário jocoso em cima da escolha do seu amigo, faz bem.
3. Na hora de pagar fazer questão de dizer, se possível em voz alta para que todos ouçam, que é pra presente. Melhor se embrulhar num papel escuro que impeça que os outros vejam o que se passa dentro do embrulho.
4. Um caso extremo seria na hora de pagar dizer pro livro ruim "esse é pra presente" e comprar junto um Dostoievski e dizer "e esse é pra mim". Depende da inteligência da pessoa para o qual você vai pagar. Se ela conseguir discernir um do outro, ótimo, ponto para você.
Seguir essas dicas mitiga muito a vergonha, embora ela permaneça. A solução ótima é mesmo não ter que passar por essas situações, mas aí é querer demais.
5 Comments:
Depois eu sou o esnobe. Primeiro a purificação cinematográfica à base de Visconti, agora isso.
É meio isso mesmo Saud, mas seria um misto com viés pra esse lado, aquela mistura de mea-culpa com esse lance de saber que é só sacudir o pó que eu volto e eles não.
E, convenhamos, o Lucas é muito mais esnobe que eu. E o Saud também.
Ele devia ter comentado das feras.
Pô, o começo do post não muda nada. É um medo esnobe, ou melhor, é o medo de não se mostrar esnobe. Vale praga? Acho que se o Tija lesse Dan Brown ia se divertir muito.
Ei, maldito, é você quem tem gostado de comédias água-com-açucar e música pop de rádio. Desconfio que você tenha lido e gostado mas está esperando o momento certo de anunaciar isso para a nação. Não,não vale praga.
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