Friday, April 15, 2005

Porque o trailer também é arte

A maioria dos cineastas trata o trailer como uma amostra do filme, aliando cenas do mesmo com uma narração em off e algumas falas. Tem aquele roteiro clássico, com a voz em off grandiosamente dizendo "ele era um homem, que havia perdido sua fortuna. Ela, uma garçonete manca de botequim que nunca havia amado ninguém. E eles não tinham nada em comum, exceto...o destino!".

O destino??? Pelo amor de Deus...

É aquela coisa brega, algumas vezes conta partes importantes do filme, e no final fica aquele amontoado de cenas e vozes que não levam a lugar nenhum.

Mas há exceções. Vi o trailer de "Bom Dia, Noite", filme italiano muito muito bom (4 com viés de alta) que vi no Festival em 2003 mas vai estrear só agora por aqui, e é quase perfeito, lindo, lindo. Não há falas, não há musica, não há narração - pessoas descendo a escada e outras que olham um elevador e se espatam. Um jovem entra no elevador, desce, abre a porta e todos olham pra ele e o elevador. Termina com um close no rosto do jovem e pronto. É isso aí.

Quer saber mais das cenas, das falas? Veja o filme, pombas! Quer saber o enredo? Se informe, diabos! Veja o trailer não como um apêndice, mas como uma obra de arte, algo independente.

Os melhores trailers que já vi são os do Kubrick. No topo, Laranja Mecânica - 1 minuto insano ao som da abertura Guilherme Tell acelerada, misturando cenas aleatórias com palavras gigantescas na tela - Metaphorical, Kubrick, Beethoven, Sarcastic, Violent, etc. É espetacular, não diz nada sobre o filme, mas quem liga? Temos o de 2001 também lindo, apenas os planetas se alinhando e Assim Falou Zaratustra tocando, e por aí vai. Nenhum dos trailer do Kubrick tem essas imbecilidades normais de trailers, são obras de arte eles mesmo. E assim devia ser com todos.

Por isso a felicidade quando vejo um trailer tão bom quanto este, e ainda mais em se tratando de um filme muito bom.

Vou pensar num Top 5 trailers...

2 Comments:

Blogger Unknown said...

Um dos projetos a apresentar para a Globo Filmes antes de quebrarmos a produtora com "O arco-íris da gravidade" é um filme feito de trailers para filmes imaginários. Alguns bons, outros ruins, mas tem que ter um trailer com a seguinte narração:

"He was an innocent man (fala do filme) accused of a crime he didn't commit (fala do filme). Now he must fight alone (fala do filme, explosão) to prove his inoccence (explosão) and find out the true criminals (explosão, fala, explosão)."

O filme começaria direto como um trailer, sem que as pessoas soubessem quando os trailers reais acabaram e os fictícios começaram. Seria um sucesso. Ou um fracasso, quem se importa?

"Ninguém pode saber" talvez seja revisto. Até lá, eis o julgamento: é um filme muito chato durante duas horas e vinte e muito bom nos vinte minutos finais. Teoria forte, já exposta em "Adaptação": se o fim do filme for bom, tudo o mais está perdoado. Mas comigo não é assim que a banda toca.

3:47 PM  
Blogger Werner Daumier-Smith said...

Muito boa a idéia dos trailers!! E afinal, quem se importa?

4:13 PM  

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