Wednesday, January 19, 2005

Sobre Livros e Livrarias

Não sei ao certo o que sente uma mulher em uma tarde de compras no Fashion mall, mas acredito ter uma noção pois creio acontecer o mesmo comigo em uma tarde em uma livraria. Não sou muito de comprar roupas, nem carros, nem relógios, nem camisas de futebol. Mas gosto de comprar livros. Muito, aliás. É um dos grandes prazeres da vida.

A compra de livros, porém, é um ritual sagrado, não podendo ser feita sem que pelo menos algumas premissas básicas sejam seguidas, caso contrário se torna uma compra ordinária qualquer, o mesmo que comprar peixe na feira ou detergente na Sendas.

Em primeiro lugar não existe comprar livros pela internet. Bem, comprar qualquer coisa pela internet já é uma coisa esquisita, totalmente impessoal, mas livro é pecado mortal, daqueles que nem o papa tiram. A exceção, logicamente, são livros que não se encontra no Brasil. De resto, é uma possibilidade inexistente, uma idéia que já nasceu morta, nunca foi.

Em segundo, é preciso escolher bem a livraria ou sebo onde efetuar a compra. Livrarias mega-store de shopping, com aquelas luzes brancas, prateleiras de best-seller, livros de auto-ajuda e vendedores que não distinguem um Pessoa de um Sydney Sheldon pertencem ao submundo das letras, são proibidas, domínio de Hades no mundo inferior das livrarias.

É preciso observar também que uma livraria é uma livraria, vende livros, pode vender cds e dvds também, mas nunca outras coisas tais como máquinas fotográficas, televisões, bicicletas, batatas, peixes e etc.

Observadas as restrições, há que se achar o local perfeito para a compra. Os requisitos indispensáveis para que a livraria tenha o Selo Tony de Qualidade ("aprovada por Tony") são uma certa bagunça na arrumação dos livros, bons vendedores, boa seção de estrangeiros, seções especiais e um bom café. Não existe compra sem um cappuccino ou algo mais.

No Rio o grande destaque das livrarias é a Travessa. Local agradável, com boa música, livros empilhados, bons importados, boas seções "escondidas" no fundo da livraria como as mesas de história e de filosofia, um café bom, bons cds e bons dvds e um público bastante interessante. Além disso, fica em frente ao Estação Ipanema, o que garante a dupla jornada perfeita, que consiste em um bom filme seguido por uma boa fuçada na nos livros, finalizando com um cappuccino ou um vinho com uma salada ou sanduíche enquanto se lê a mais nova aquisição. Não pode ser melhor.

Outros destaques positivos são a Argumento, que talvez peque um pouco pelo excesso de arrumação mas tem um café muito bom, a Da Vinci, no centro, ótima em importados e com o melhor cappuccino do Rio ao lado e a livraria que abriu agora em frente ao Espaço Leblon, que também permite as dupla-jornadas e tem uma seção espetacular de DVDs, embora peque um pouco nos livros.

Com os sebos a coisa funciona um pouco diferente. Sebo bom é aquele cubículo entulhado de livros e poeira, onde a grande diversão é passar horasprocurando coisas nas prateleiras e pilhas espalhadas por todos os cantos. O segredo dos sebos é não se saber o que vai comprar, não ter nenhum livro na cabeça, ir mexendo até que sai um monte de coisa interessante e muitas vezes se descobre ótimos autores deste modo.

Nos sebos há ainda o intercâmbio de informações, o que é raro em uma livraria. A maioria do público é formada por ratos de livros, que muitas vezes indicam coisas interessantes e estão sempre prntas para uma conversa.

Achar uma obra rara em um talvez seja o mesmo que uma mulher encontrar um queima de estoque em alguma loja da moda - prazer total.

Já ia me esquecendo: Bienais de livros e eventos afins estão totalmente fora de cogitação.

Mas o prazer dos livros não para na cerimônia de compra, a melhor parte mas não a única. Tirando a parte óbvia da leitura (o que não necessariamente garante o prazer, imagine isso com um Mark Twain!) há a satisfação de ter o livro nas prateleiras de casa, o estágio final do nirvana literário. Achar a seção correta na estante, encontrar a posição adequada nesta seção, é tudo parte do processo. Atualmente divido os livros por país de origem dos autores e sub-divido por anos em que foram escritos, que é uma arrumação clássica e correta mas sempre válida.

Assim termina a epopéia do livro, desde o momento mágico da compra, dentro do ritual descrito, até a colocação final na estante, ficando para a observação e um possível releitura caso seja digno dela. E então já é horar de comprar mais livros, repetindo todo o processo.

Por fim, um detalhe importante: muitos livros são comprados não para uma leitura imediata, mas para uma leitura futura, bastando saber que estão nas estantes para a satisfação. Há livros que se sabe que são bons e necessitam ser lidos, mas cada livro tem seu tempo, que deve ser bem observado. Mas isso já é assunto para outro post que farei em breve.










5 Comments:

Blogger Werner Daumier-Smith said...

Se você adotá-la eu pedirei a mão dela em casamento pra você!!!!!

2:04 PM  
Blogger Unknown said...

O Saud confirmou a minha nota imediatamente pós-sessão do Lilja - o filme só virou um 3,5 depois de um tempo, por insistência do Tija. Melhor eu não revê-lo para não ameaçar nossa amizade.

Ah, sim, o post. Muito, muito bom. Meio radical, mas pelo que vejo por aí todo blogueiro é assim. Menos eu, um blogueiro sóbrio, comedido e justo. Mas enfim. Pensei num post legal mas continuo com preguiça de escrever, então segue a sugestão: breves análises das editoras brasileiras (um top/bottom 5, talvez?), possivelmente com notas. 34, Companhia, Cosac, 7Letras, Rocco, Nova Frotneira e por aí vai. Se você não tiver saco escrevo depois.

9:47 AM  
Blogger Werner Daumier-Smith said...

Caro Saud,

O Lylja acredito que tenha um resquício de SS mas mais no final, ela se joga da ponte e ponto, acabou. Mas o viés rússia-Lylja (uma graça, não?) fala mais alto.

Caro blogueiro sóbrio, comedido e justo,

sua idéia é muito muito boa. Uma coisa sobre editoras, bem interessante. Não custa lembrar que mais uma vez o viés Rússia coloca a 34 em primeiro lugar, as outras é preciso pensar.

10:46 AM  
Blogger Unknown said...

Sim, esse post definitivamente já deu. Mas está confortável por aqui. Faltava um cappuccino, talvez.

Eu gosto de ser sóbrio, comedido e justo. E diria a vocês, jovens, que tratem de ser ébrios, desvairados e injustos logo, que é pra deixar de ser cedo. Como já disse numa discussão que assustaria a Raquel, não nasci pra ser Mainardi. E sim Dapieve. Mas digressiono.

Também não sou muito da Travessa, que tem o pé direito muito alto, alto demais, me dando preguiça de levantar o pescoço e vergonha de subir na escada (tem escada?). Prefiro a Argumento, mais funcional e com uma aparência mais modesta. E a Raquel tem razão, a Da Vinci dá um banho em qualquer concorrente carioca.

Alargando as fronteiras, a melhor livraria que conheço é a Hodges Figgis, em Dublin. Dois ou três andares, várias salas diferentes e, ao menos em janeiro, uma penca de livros em promoção - mas promoção mesmo, european style. Super viés por ser citada no "Ulisses" (um super viés equivale a dois vieses normais, elevando automaticamente a cotação da coisa). Uma livraria 4,5, com potencial de se tornar 5 na ocorrência de uma terceira visita.

Esse comentário está ficando um bocado longo. Sim, a 34 ganha com ou sem o viés Rússia. A Companhia carrega o peso da grandeza, mas é boa. A Cosac é boa, mas cai no mesmo erro da Travessa - e quem precisa de sobrecapas? Mas é isso.

4:53 PM  
Blogger Werner Daumier-Smith said...

Esse post já deu mesmo. Isso posto...

discordo quanto á Travessona. É boa, e os livros empilhados nas mesas são assaz interessantes. Para mim a Argumento é muito arruamdinho, limpinha, cheirosinha, parecendo uma rica habitante de Belo Horizonte, isso sim, o que aliás não é todo mal, não é de nada mal, diabos, não é mal, mas ainda assim é porque tem quer ser, malditas comparações!

Justo, comedido e sóbrio você foi Saud, é a verdade, mas isso não o torna justo, comedido em sóbrio no todo como acontece ao nosso amigo Murtinho.

E Raquel, muito bom o seu comentário, e boa a visão feminina das compras. Estou de acordo mesmo não entendendo nada do riscado.

Enfim, esse post já deu.

5:01 PM  

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